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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

QB A BOM PASSO

Beto Spina (João Martins) é um dos meus companheiros de muitas caminhadas e durante muitos anos. Decidimos, desta vez, ver o que faço, à distância, nas terras do Libolo. E fomos ao Projecto QB partindo de Luanda às 9h45 do último sábado de Novembro.

Chegados ao local, a casa de campo estava cercada de capim. A nespereira não resistiu ao sol e secou. Os pés de maracujá e os pés melancia seguiram-lhe exemplo e secaram também. Parecia tudo perdido.

Rumamos à lavra da anciã Maria Canhanga e capturamo-la para a aldeia de Pedra Escrita, onde mora, distando 2 km do arimbo (1). Apresentou ao Beto o seu campo cultivado e deixou recomendações à tarefeira (2).

- Colhe kizaka (3), recolhe o bombó seco, guarda as enxadas, faz isso e aquilo, entre outros ditames. Ordenou ela à senhora de meia-idade.

Colhemos cana-de-açúcar e mandiocas e rumamos à viatura que ficara a metros, na estrada principal. Chegados à aldeia, apresentamos as prendas que levávamos: Uma botija de gás que a isenta, doravante, da procura constante por lenha. O tempo chuvoso é pernicioso para esta tarefa. Apresentamos igualmente o material eléctrico para a instalação do gerador, já consigo há três meses. A Velha "sorria de lado", mas não era ainda tudo. 

Montado o fogão ela iniciou a feitura do almoço e embora o relógio apontasse a hora 16, decidimos visitar o campo principal do Projecto QB que fica a aproximados 1,5 km da EN120 (onde fica a casa de campo/passagem) e a 4 Km da aldeia.

Por atalhos, no meio do mato, caminho em "coluna por um", o verde animava-nos a cada passo que marcávamos até que chegamos ao local. Dois tarefeiros concluíam a empreitada indicada pela anciã e coordenadora Maria Canhanga. Estavam no local há 26 dias e faltavam outros 4 dias de actividade que concluiriam junto à casa de passagem, à beira da estrada. Estava assim explicado que o terreiro estaria novamente apresentável.

No campo principal, o espaço cultivado tinha crescido aproximadamente mais um hectare. Os pés de maracujás cresciam e os de melancias, germinados em tempo seco, tentavam trazer à vida os primeiros frutos. O tempo era impróprio para florir, mas o facto de terem germinado em tempo ainda seco faz com que se antecipem. No meio da mandioqueira cresciam laranjeiras, abacateiros, mangueiras e limoeiros. A acompanhar o crescimento do campo cultivado estão os eucaliptos que a seu tempo servirão de delimitadores temporários do espaço.

- "Tomara que os pés de melancias consigam produzir a sementeira da reposição. A próxima lavoura será em tempo próprio", exclamei. 

Posto isso, começamos por dar uma volta ao campo todo. - "É muito grande", exclamou o Beto, como que a reconhecer o esforço empreendido. 
- Cabão, (o Beto trata-me assim) tens aqui um grande trabalho. -Rematou.

Plantei um pé de videira que consegui no trajecto para Pedra Escrita. Espero que germine e que se reproduza. A uva fará bem ao meu projecto de pomar. Cortamos um cacho de bananas que nos deu imenso trabalho a carregar (estamos desabituados a caminhar com peso) e pegamos na viatura que ficara na EN120, a 2km do interland. Fizemos os outros 2 km até à aldeia de Pedra Escrita, onde nos aguardava o almoço. Era a primeira refeição que a dona Maria confeccionava ao fogão a gás naquela aldeia. Com ela estavam ainda reunidas as parentes admiradas com a forma rápida como pôde fazer a refeição. Tomado o almoço, decidimos ligar os cabos eléctricos.

A noite tinha já batido à porta e o trabalho foi concluído graças à iluminação do Nissan Almera. Colocamos uma tomada, um interruptor duplo, uma caixa de derivação e ligou-se o gerador e acenderam-se uma lâmpada interior da casa e outra exterior. Por electrificar ficou a cozinha afastada do dormitório. É assim no campo. 

O relógio marcava 19horas 40 minutos. Era tarde para quem tinha de percorrer 280 km sem o pneu de socorro substituído na viagem da ida. Luanda aguardava-nos. O Beto teria de trabalhar no dia seguinte e eu aproveitaria o Domingo para descansar.

- Adeus, mãe!
E partimos deixando-a triplamente satisfeita. Para nós o sentimento foi, sem dúvidas, de missão cumprida. O Beto tinha matado saudades do campo. Eu a alegria de ver A QB A BOM PASSO.

Glossário
1- Arimbo: lavra
2- Tarefeira: trabalhadoa eventual
3- Kizaka: folhas tenras de mandioqueira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

QB: AGRICULTURA & TURISMO


Traduzido para português é: local de/para descanso. Fica a aproximadamente 270 Km de Luanda (capital de Angola), na província do Kuanza-Sul, Município do Libolo, Comuna da Munenga, próximo da aldeia de Pedra Escrita, na EN 120, entre o desvio de Calulo e Lussusso.
Aqui, neste lugar, onde há muito trabalhara meu pai e que de antigos cultivos apenas restam algumas palmeiras (seis ou sete), tento reerguer o que será a minha sombra para a velhice, caso lá chegue.

Começo com o plantio de mandioqueiras (lá já tenho 2 hectares), bananeiras e um pomar em lenta criação.
Junto à estrada, pois as terras distam 1,5km da EN120, está uma pequena casa (apenas um quarto de dormir e um outro para armazém provisório). À medida que a rodovia for melhorando as idas se tornam cada vez mais frequentes e, quem sabe, a B'unhôhina se torne fazenda?
Com um clima de transição e propício para turismo campestre, a QB é cortada por um riacho de água permanente que propicia um repouso agradável, sobretudo, a quem queira fugir da agitação de Luanda. Uma represa está a ser planeada, podendo igualmente praticar-se a piscicultura.
Quem por lá passar já nos pode visitar e oferecemos mandioca e maracujás, que há o suficiente em tempo chuvoso.
Um abraço e aguardamos pela sua visita. Aqui, nesta página, ou na terra descrita.
Para encomendas: scanhanga@hotmail.com tlf. 914810289