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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

ANGOLA, A DESIDADE POPULACIONAL E O MILHO

As primeiras teorias económico-demográficas com que me familiarizei, ainda como estudante no IMEL (Curso Médio de Jornalismo, 1993-96) foram de Thomas Malthus, economista britânico de defendia a “punção demográfica”, considerando importante o  controle do aumento populacional (teoria conhecida como malthusianismo), visto que, enquanto os meios de subsistências crescem em progressão aritmética, a população cresce em progressão geométrica, sendo que “a melhoria da humanidade seria impossível sem limites rígidos para a reprodução.

Tendo vivido entre 1766 a 1834, o “pai da demografia, clérigo anglicano, economista e matemático, teorizou ainda “desconhecer que algum escritor aventasse a possibilidade de o homem da terra puder viver sem comida."

Vagueando pelo WhatsApp, deparei-me com um scheenshot de uma página do livro História Económica de Angola, relatando o “quadro geral de exportações de Angola entre 1946 e 1947”, em volume e valor. Em 1946, a população de Angola era de aproximadamente 2 milhões (Dilolwa, 1978), produzindo-se naquele ano 115 mil toneladas de milho.

Angola, com seus 1246700 Km2, conta perto de 33 milhões de habitantes, em 2022, uma densidade média de 26,46h/km2.

No Brasil, por exemplo, para além de servir ao consumo humano, o milho é um componente fundamental das rações destinadas à criação animal, distribuído da seguinte forma: 63,5 % na avicultura de corte; 59,5 % na avicultura de postura; 65,5 % na suinocultura; 23 % na pecuária de leite (em equilíbrio com a participação do farelo de trigo 23% e farelo de algodão 20%.

Segundo ainda a página www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho (consultada a 22.10.22), no Brasil o milho responde a cerca de 70% do custo de produção de aves e suínos, ao passo que na alimentação humana, o consumo anual per capita é de 18 kg em média, um indicador que pode estar abaixo do consumo humano do milho em Angola onde o funji ou pirão, a kanjika, a massaroca e o lukangu imperam à mesa dos cidadãos nacionais de vários extratos sociais.

Como aumentar a felicidade das pessoas sem aumentar a produção ou como fazer com que haja equilíbrio entre terra, povoamento e produção alimentar?

www.poupainvest.com (22.06.22) diz que Angola precisa cultivar 500 mil hectares de milho para poder satisfazer as necessidades de consumo de milho e seus derivados, sendo que (em 2020) a produção nacional é/era apenas de cerca de 2 milhões de toneladas por ano, cerca de 40% da necessidade anual.

Terra humífera, água, vias de comunicação, energia eléctrica e telecomunicações são alguns itens a ter em conta.

Sendo que o sector de Energia diz “haver superavit em termos de produção de energia", havendo apenas “constrangimentos a ultrapassar na transportação e distribuição”, defendo:

1-  Redistribuição de terras ociosas detidas por gente estranha à agricultura ou que a não pratica àqueles que estão empenhadas na lavoura;

2-  Preservação de terras comunitárias e passagem de títulos para usufruto, afastando a sua usurpação por elementos estranhos às comunidades;

3-  Potenciação de cooperativas agrícolas e atribuição de personalidade jurídica para que possam socorrer-se de créditos e outros serviços bancários;

4-  Aplicação da ciência na agricultura: acompanhamento regular e qualitativo dos processos e ciclos agrícolas por técnicos especializados;

5-  Mecanização agrícola;

6-  Electrificação do campo, levando a energia eléctrica às fontes de água e permitir o bombeamento desta. Neste quesito, a Fazenda PIP, em Cacuso, é bom exemplo, tendo baixado consideravelmente os seus custos ao substituir o bombeamento de água por via de energia termo-eléctrica pela da rede pública;

7-  Construção de vias de comunicação (estradas) nas áreas de produção para facilitar a circulação (abastecimento e escoamento);

8-  Implantação de telecomunicações nas zonas de produção para permitir a mobilidade e permanência de capital humano qualificado nas zonas rurais e fomentar o repovoamento do campo;

9-  Levar a indústria de conservação e transformação ao campo (a exemplo da Rússia do final do séc. XIX e princípios do séc. XX) e acrescentar valor agregado às commodities;

10-             Apostar numa agropecuária e indústria transformadora apostada na qualidade, de acordo às normas internacionais, competindo em igualdade de circunstâncias com os produtos agroindustriais da região e do mundo.

Seguindo a lógica do crescimento demográfico, se em 1946, em que éramos 2 milhões de habitantes, a produção ascendia a 115 mil toneladas de milho/ano, aos 33 milhões de habitantes devíamos estar próximos de 4 milhões de ton/ano para gerar "equilíbrio" entre o saldo populacional e o suprimento de necessidades alimentares. E estamos a falar apenas de milho, sem ter em conta outros bens da cesta básica.

Por último, é importante manter a agricultura como base e a indústria como factor decisivo do nosso desenvolvimento.


Obs: publicado pelo Jornal de Economia & Finanças de 24.06.2022