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domingo, 14 de agosto de 2022

"DESMONTANDO" INVERDADES QUE LEVAM PERTO DE 1/2 SÉCULO

Há mitos bons que, coincidem com a ciência, fazem a humanidade progredir. Enterrar capim e restos de troncos, por exemplo, cria matéria orgânica e alimenta a planta. Há, porém, outros mitos que devem ser substituídos pela razão, tal como os filósofos helénicos se opuseram aos mitos dos pensadores de Mileto (Tales, Anaximandro e Anaxímenes).

Quantas vezes você leu ou ouviu dizer que "em Angola faz-se agricultura em todo o lado", ou que "os nossos solos são muito férteis", quando não se apimenta que "todos eles têm bastante húmus"?
Do ponto de vista da sua constituição geológica, diz o entendido em Geologia Nelson Cabanga, os solos são consequência de erosões que as rochas sofrem, em que detritos, resultantes desta erosão, ao serem depositados numa vasta superfície, criam o tal solo, processo que resulta de milhões de anos.
Imaginemos que estes detritos resultem de rochas ácidas? Provavelmente haverá plantas que não se adaptem a estes solos ácidos, daí a necessidade de tal tratamento por meio de outros componentes. Já se forem rochas básicas, existirão plantas que se adaptam mais a este tipo de rochas, sem desprimor de não necessitarem de tratamento. Daí nasce exatamente o casamento entre o agrônomo e o geólogo.
Nelson Cabanga prossegue que caberá ao geólogo estudar a característica química do solo, se possível identificar o tipo de rochas que circundam estas zonas, e tentar compreender a forma como o este solo foi criado que, normalmente, leva milhões de anos, por meio dos processos mecânicos de erosão.

Numa conferência recente, em Benguela, em que se discutia a pertinência do uso de rochas fosfatadas para a correcção de solos agrícolas,  o Professor e ambientalista João Serôdio disse, em som audível, que "os solos angolanos não são nada ricos", conforme sempre se apregoou, "com excepção de algumas regiões de Malanje que têm solos férteis e profundos".

O académico "desmontou" mais uma tara que nos fazia "gigantes de barro", fazendo-nos acreditar (quase toda a minha geração nascida no campo) que "de Cabinda ao Cunene, os nossos solos não precisavam de correcção, nem de adubação".

João Serôdio disse mais: é preciso corrigir os solos, através da rochagem, tendo em conta a necessidade de sua melhoria e manutenção das características, mas é preciso também "estudar os solos receptores e a rocha a adicionar que devem ser compatíveis, para não criar mais estragos do que solução".

Acrescentou que, "apesar da rochagem, a adubação deve estar sempre presente para que se obtenham elevados índices de produtividade".

Agora que tomei conhecimento, vou procurar calcário dolomítico para corrigir o solo da minha "kibela" e continuar a fazer NPK orgânico para alimentar as plantas do pomar doméstico. O fosfato é também chamado como alimento para as plantas que precisam de matéria orgânica que deve ser "sempre reposta".
É preciso levar a verdade aos que trabalham a terra para que, conhecendo os pontos fracos, se potenciem, corrijam os solos, tenham melhores colheitas e se afugente a pobreza nas comunidades rurais.

Para quem aposta no milho, por exemplo, para além de ter de encontrar ou transformar a terra em solo humífero ou humificado, deve também olhar e apostar em: cuidado e protecção da sementeira antes da germinação; semear em época certa e sob condições climáticas apropriadas; atenção com o manuseamento dos instrumentos de trabalho (sacha, adubação, rega, etc.); irrigação de qualidade (quando não é por sequeiro); controle de pragas, entre outras técnicas (adaptado de AZEVEDO; SILVA, 1999).

BG, 02.06.2022
Texto publicado pelo Jornal de Economia & Finanças a 10.06.2022