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segunda-feira, 2 de maio de 2022

EM BUSCA DE FRUTA-PÃO

É mais conhecida por fruta-pão, porém, tem como nome científico artocarpus altilis e temo-la, em Angola, em províncias como Cabinda, Zaire e Uige. Também pude encontrá-la em Luanda (Coreia).
Provei a fruta em 1998, em São Tomé, fervida e servida com concon. Uma delícia!

De lá para cá, procurei pela planta (rara) até a encontrar, o que se constituíra em alívio. Desconhecia, porém, que a árvore é "como bananeira", como diz meu kota e colega André Buta Neto: a fruta não contém sementes e cortado um galho não enraíza por estaca. Uma reprodução rara e complicada. Só a planta filha (com enraizamento) é que pode ser arrancada e estaquiada.


Como conseguir uma planta nova era o desafio. Tentámos na deslocação ao Uige, em 2021. Das raízes, que o amigo Jaime Reais conseguiu e enterradas em solo húmido, não brotou rebento. Fomos a Cabinda, ainda em 2021, e pedimos apoio ao amigo Henrique Bitebe que nos levou à escola/internato das madres. Não havia planta nova e extraímos raízes que também, enterradas em solo humedecido, não resultaram em rebentos. Em Janeiro de 2022, fomos a Buco Zau e, novamente, o amigo Bitebe que conseguiu dois rebentos. A viagem de um dia, em carrinha aberta, sem que as plantinhas fossem cobertas de terra húmida, e outra de avião, perfazendo 48 horas, estressaram em demasia as folhagens que secaram, seguindo-se as duas estacas.

Perseverante em conseguir ter uma desta rara planta, comprei, em Luanda, mais um exemplar, após longos meses de negociação.

Para a minha "desilusão", quando esperava encontrar o exemplar separado da raiz e em um vaso, para tal dei bastantes dias desde que me foi comunicado o resgate da preciosa, o vendedor entendeu separá-la da raiz exactamente ontem, dia em que escrevi "senhor Ínio, passo hoje, sem falta".
- Sr. Luciano, separei-a apenas hoje. - Atirou, à minha chegada, procurando indirectamente dizer que "se viver é sorte tua e se morrer é desgraça tua".
- Está bem. Vou enterrá-la, ainda hoje. - Respondi-lhe, mesmo sabendo que da Coreia (Luanda) ao Zango levaria no mínimo duas horas e meia. O relógio apontava já 18h37.
Foquei-me em contornar os engarrafamentos e evitar os condutores ofensivos para que não me "arranjassem problemas". Era preciso diminuir o tempo de estresse da novel planta "desmamada" da raiz alimentadora.
À hora projectada cheguei ao Zango, destino da artocarpus altilis. Já tinha mandado escavar um sulco no lugar onde havia uma jabuticabeira sacrificada pelas galinhas-do-mato, outro meu encanto.
Havia me esquecido que quando dei conta da morte da jabuticabeira, tinha enterrado uma porção de raiz de artocarpus altilis que trouxera de Cabinda. O rapaz que fez o sulco nem sequer deu conta que aquele segmento de raiz, 40 cm aproximadamente, não era uma raiz qualquer. Extraiu-a com a pá e ficou debaixo da terra removida do sulco.
Foi já depois de termos enterrado a planta de fruta-pão que "tropecei" os olhos no segmento de raiz e vi que tinha pequenos rebentos à volta. Levei a memória ao passado e lembrei-me que havia enterrado naquele mesmo espaço um pequeno segmento de raiz de artocarpus altilis depois que confirmei a morte da jabuticabeira.
- Epá, essa também é "fruta-pão"! - Exclamei contente e aliviado do facto de me terem dado um exemplar extraído da raiz alimentadora naquele mesmo dia.
Desfizemos o cerco que havíamos colocado à volta da nova planta e reenterramos a raiz que apresenta rebentos.
Pelo menos, está alteada a esperança: das duas, uma haverá!

Obs: texto publicado pelo Jornal de Economia & Finanças de 13.05.2022