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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

MEU ETERNO CAFÉ

Uma de nossas brincadeiras era ir ao terreiro e, com uma "espátula", virar o café, de modo que os grãos em baixo viessem ao contacto com o sol.

Em 1974, a minha mãe vivia com o marido (António Fernando Dambi) em Kitumbulu*, fazenda do sogro, Ngana Muryangu.

Por pouco, eu teria nascido na fazenda. Porém, a morte de meu avô materno Ngana Ngunji (Kanyanga, soberano do Kuteka**) fez com que o meu nascimento acontecesse na aldeia de Mbangu-de-Kuteka.

Até 1978 (ano da agricultura), à minha volta, em Kitumbulu, eram cafezais, mandioqueiras, bananeiras e peixe que meu pai povoara o riacho (que desagua em Kananvale).

Pero de casa ficava o terreiro, espaço onde se secava e ensacava o café até chegar o tractor que o levava para um destina (na altura desconhecido por mim).


Antes de chegar a idade escolar, fomos morar em outra fazenda, onde meu pai procurava autonomizar-se e dar luz aos filhos. Na Fazenda Israel, depois rebaptizada por Fazenda Hoji-ya-Henda, encontramos bananeiras, citrinos e ananaseiros. O café estava não muito distante, tendo-o reencontrado no Limbe (cerca de 5 Km) aonde nos mudámos e fixamos dois anos depois.

O café que tomo até hoje fez sempre parte do meu imaginário. Sempre quis ter um cafeeiro, mesmo que não lhe colha os grãos. É parte da minha existência. "Nasci" numa fazenda de café.

O meu amigo Mario Botelho De Vasconcelos ofereceu-me hoje, 04.09.2020, essas plantas, vindas de Kabuta***. Vou cuidá-las com todo o esmero, pois, um dia contarão a história da nossa existência.

Obrigado, Mário.


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* Regedoria de Kuteka, comuna de Munenga, Libolo.
** As actuais regedorias eram "Estados autônomos", semelhantes às Cidades-Estados do período helênico.

*** Comuna do município do Libolo, rica em café.