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domingo, 26 de outubro de 2025

MORANGUEIRO DO KAPOLO

Gabam-se os efectivos nacionais do Serviço Prisional que "a única penitenciária onde os detidos produzem o que comem" ou que, pelo menos, "produzem o suficiente para merecer a alimentação, saúde e acomodação que a instituição lhes proporciona é no Kapolo", penitenciária que fica na comuna da Xikala, a bons quilómetros da capital vyena. Outros, os mais conservadores, apontam o Bentiaba, antiga penitenciária de São Nicolau que acolheu muitos presos políticos (de consciência), como "a única que torra farinha com Kapolo" no que à produção agrícola diz respeito. 

Bem, é do Kapolo que recebi como oferta um pé de morangueiro, uma herbácea expansiva, que melhor se expande ao sol e solo húmido e rico em húmus. 

O meu morangueiro chegou com excesso de stress hídrico. Sem receber raios solares e rega durante a viagem e esquecida entre as imbambas, depois da chegada a Luanda. 

Foi por sorte que o encontrei. Não me fora apresentado como oferenda do meu cunhado SS Catombela. O gosto pelas plantas fez-me tentar ressuscitá-lo, o que julgo estar a acontecer, pois, há 4 dias no vaso e sobre meia luz solar, já apresenta uma folhinha nova e outra nascente. 

Foi ao terceiro dia que o SS Catombela ligou-me a perguntar:

_ Comué, nhado?! A garrafita de usambe e o morangueiro chegaram?

_ Usabem recebi e estou agradecido. Encontrei entre as coisas descarregadas um pé de morangueiro que levei a um vaso, com pena que secasse, mas não me foi apresentado.

_ Não faz mal. Assim a mana se esqueceu. O importante é que o mano descobrir e deu acolhimento à planta. Saiu do Kapolo.

A expressão "saiu do Kapolo" aumentou o meu apreço e cuidado para com o exemplar. É a segunda tentativa a ter morangueiro em casa. 

A primeira foi em 2021. Depois de um roteiro laboral que me levou ao Cipindo, Longondjo e Kuxi, viajando sobre rodas, passei pelo Luvangu onde comprei dois vasos contendo morangueiros. Talvez devido ao excesso de sombra e ou de calor, as plantinhas, que já faziam gosto aos vasos, foram minguando uma após outra, desaparecendo em semanas.

_ Essas plantas não se adaptam ao clima quente de Luanda. _ Disse para mim mesmo, sem que visitasse um estudo básico para aferir o que diz a ciência sobre o clima ideal ou adaptativo, assim como os melhores cuidados a observar para que o morangueiro sobreviva e produza.

O meu cunhado Sabino Salongue Catombela disse-me que ela, a herbácea perene, cresce melhor se exposta ao sol e em campo aberto, portanto, sem sombra. 

Consultada a literatura disponível, dita que o morangueiro pertence à família Rosaceae. É uma planta herbácea perene, o que significa que pode viver por vários anos, embora a produção de frutos seja mais intensa nos primeiros anos.

Em Angola, o cultivo de morangos é mais produtivo em regiões de clima temperado, ou seja, aquelas com temperaturas mais amenas e boa disponibilidade de água. Regiões como a Huíla e Huambo são conhecidas como as que possuem condições mais favoráveis para a agricultura de frutas.

Quanto a Luanda, embora possua um clima mais quente e seco, é possível cultivar morangos desde que se observem alguns cuidados especiais. Se tentar plantar morangueiros, opte por variedades que sejam mais resistentes ao calor. Mantenha o solo sempre húmido, mas evite encharcamento. A irrigação por gotejamento pode ser uma boa opção. Em climas muito quentes, é importante proteger as plantas do sol intenso. Utilize telas de sombreamento para reduzir a exposição directa ao sol durante as horas mais quentes do dia.

Os morangueiros preferem locais com muita luz solar, pois o ideal é que recebam pelo menos 6 horas de sol directo durante o dia. No entanto, em climas muito quentes como o de Luanda, um pouco de sombra durante as horas mais quentes pode ajudar a evitar o estresse térmico nas plantas.

PS: A Lúcia e o Joshua já provaram morangos da horta em Luanda.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

OS CICLOS E A UTILIDADE DO TOMATE

Quem anda pelas superfícies comerciais e pelos mercados (formais e informais) de Luanda e de outras cidades e vilas vê, com alguma “compaixão”, quanto tomate vai ao lixo por falta de comprador ou por se achar impróprio para a comercialização. As senhoras do mercado do Km 30, Viana, chamam-no “tomate tocado” e dão-no a “preço de oferta”, quando levar de graça o “tomate tocado” não se reverte em favor do cliente ao vendedor.

Soube que no Kwanza-Norte se estava a jogar tomate aos rio e lagoas para alimentar tilápia e bagres. Na Kabala, perto de Luanda, os parentes visitantes estão a ser brindados com caixas do tomate abundante, algo que também ocorre nas “nakas” de Ngulungu Alto e  Waku Kungu, só para citar regiões que tenho visitado com frequência. 

Isso ocorre porque o senso comum leva-nos a plantar o tomateiro em espaço aberto, entre o final da época seca, nas baixas e ou em terreno plano, sob regadio, dando-se a colheita no início da época quente, antes das grandes chuvas, evitando o rigor do frio escaldante que pode estressar as plantas. É também é sabido que o plantio prematuro do tomateiro pode resultar em danos causados pelo frio, enquanto o plantio tardio pode não permitir que os frutos amadureçam completamente antes da chegada da chuva.

Plantar tomateiros em regiões com alta pluviosidade, como Angola, pode ser desafiador, mas com as técnicas certas, é possível obter bons resultados. 

A drenagem deve ser adequada, evitando o encharcamento. Plantar em canteiros elevados pode ajudar a melhorar a drenagem.

O solo deve ter “cobertura morta” (mulching) para manter a humidade do solo equilibrada e reduzir o contato directo dos frutos com o solo.

Plante os tomateiros com espaçamento suficiente para permitir uma boa circulação de ar, o que ajuda a reduzir a humidade e prevenir doenças.

É importante o uso de estacas ou treliças para manter as plantas verticalizadas e os frutos longe do solo.

As pragas e doenças devem ser monitoradas regularmente e as plantas com sinais de doenças ou pragas devem ser tratadas prontamente com fungicidas ou pesticidas apropriados. 

A irrigação deve ser controlada para evitar excesso de água. Um sistema de irrigação por gotejamento pode ser útil para fornecer água directamente às raízes sem molhar as folhas.  

Locais ensolarados são ideais, pois os tomateiros precisam de pelo menos 6 a 8 horas de luz solar directa durante o dia.

Será que, estando a chuva a caminho, não se poderá plantar tomateiros e ter resultados?

Conseguem-se bons resultados em estufas que oferecem várias vantagens em comparação ao cultivo ao ar livre. Em uma estufa, é possível controlar factores como temperatura, humidade e luz, criando condições ideais para o crescimento dos tomateiros durante todo o ano, independentemente das condições climáticas externas.

A estufa oferece uma barreira física que dificulta a entrada de pragas e reduz a incidência de doenças, o que pode diminuir a necessidade de pesticidas.

O ambiente controlado permite o cultivo de tomateiros em densidades mais altas e durante todo o ano, o que pode aumentar significativamente a produtividade.

O tomate cultivado em estufa tende a ser de qualidade superior, com tamanho, cor e sabor mais uniformes, devido às condições de crescimento mais estáveis.

Os sistemas de irrigação em estufas, como o gotejamento, são mais eficientes, reduzindo o desperdício e garantindo que as plantas recebam a quantidade adequada de água directamente nas raízes.

Apesar do custo inicial mais alto para a construção e manutenção de uma estufa, a capacidade de produzir tomate de alta qualidade e fora da temporada pode resultar em preços mais altos no mercado (pois pode ser colhido e vendido no período de maior escassez), tornando o investimento mais rentável a longo prazo.

O que fazer com o tomate em excesso na praça (mercado de consumo) durante período de maiores colheitas?

Para conservar o tomate maduro por mais tempo, você pode deve manter tomate em temperatura ambiente, longe da luz directa do sol. Evite guardo na geleira, pois isso pode afectar a textura e o sabor.

Se o tomate estiver muito maduro e você não for usá-lo imediatamente, pode congelá-lo, devendo cortar em rodelas ou pedaços e colocá-los em uma bandeja para congelar e depois transfira para sacos plásticos. Pode usar posteriormente em molhos e sopas.

Pode ainda fazer conservas de tomate, como tomates confeitados ou em conserva de azeite. Isso pode prolongar a vida útil do tomate maduro por meses.

Uma outra saída é preparar molho de tomate caseiro e congelar em porções. Isso é útil para aproveitar tomate maduro e ter molho pronto para uso futuro.

Grandes quantidades de tomate têm aproveitamento industrial como:

1. Polpa e extracto de tomate: usados como base para molhos, sopas e outros produtos alimentícios.

2. Tomate desidratado: utilizado em temperos, sopas instantâneas e snacks.

3. Sumo de tomate: consumido como bebida ou usado em coquetéis.

4. Subprodutos: as peles e sementes do tomate, ricas em fibras e licopeno, são frequentemente usadas na alimentação animal ou em produtos de saúde e beleza.

5. Fermentação: tomate não amadurecido pode ser fermentado para criar produtos com características nutricionais melhoradas.

Logo, embora em Angola a colheita de tomate se verifique excedentária nos meses de Agosto e Setembro, é preciso aproveitar as vantagens da produção em estufa e investir-se na indústria de processamento de tomate para que este produto, indispensável à cozinha angolana e internacional, não escasseie e seja dado o devido aproveitamento ao excedente.

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Publicado pelo JE&F a 20 de Setembro de 2024