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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO ANO EM QUE NÃO CHOVEU

Há já bons anos, houve um ano em que (quase) não choveu. Foi o 3° ano do pós-independência. Um ano antes, traçava-se o principal objectivo do ano seguinte e, bem no discurso de fim-de-ano, baptizavam-se os nascentes 365 dias com um lema: 1978 - Ano da Agricultura. E não choveu!

Lembro-me, ainda garotinho, do sofrimento de nossas mães carregando a mandioca até às "ndungas" lá aonde houvesse sobras de água em um rio que até então fora de curso permanente. E a mandioca apodreceu debaixo da terra ressequida. Outra era colhida para consumo tinha a forma esponjosa. As mandioqueiras secaram. Kizaka não havia, tirando na kitaka (horta) aonde as mamãs acorreram, às pressas, para salvar o que era possível da sementeira e saciar a fome que é e sempre foi inclemente. Os mais velhos recorreram, rápidos, aos "livros" guardados em suas memórias. Viajaram ao ano _xis_ da sua memória e rebuscaram algumas práticas de escape utilizadas em situações homólogas e a elas incrementaram novas ideias.
Fizeram pequenos diques para aproveitar o fio d'água que restava. Foram agricultar nos vales, zonas baixas anteriormente propensas a inundações, e aproveitaram a pouca água que se acumulava durante a noite para a rega matinal.
Eventualmente soubessem, talvez não. Os vales são locais de deposição de matéria orgânica, terra fértil por natureza, proporcionando boas colheitas e abundância.
Lembro ainda do peixe, salvação nossa enquanto _conduto_. Como todos seguíamos o curso do rio e o fiozito d'água até às represas naturais e artificiais (estas últimas feitas pelo engenho criativo derivado da crise), os bagres, sobretudo, misturavam-se às mandiocas em processo de demolha na ndunga, sendo apanhados à mão enquanto se retirava a mandioca demolhada para a seca e feitura da fuba. Outros peixes encontravam conforto nas represas e eram apanhados no processo de rega, quando a água minguasse. Só a caça era farta. Os pontos em que se achasse rastilhos de água eram de encontro entre homens famintos e animais sedentos. E tudo ficava mais fácil ao caçador que, tomando medidas de segurança para não ser caçado por leões e outras feras, abatia os animais possíveis para a sua dieta. Muita carne era trocada por cereais saídos de longe. E assim nos alimentámos naquele ano em que não houve chuva (quase) nenhuma. Foi no Ano da Agricultura.
Seja em tempo de chuvas fartas ou escassas, o aproveitamento dos vales, repletos de húmus, é crucial para a obtenção de boas colheitas, assim como a construção de pequenos diques e açudes para a reserva de água que pode ser usada para a irrigação. Plantas permanentemente regadas, que não dependam da caridade dos céus, têm mais saúde e proporcionam melhores rendimentos.

Pense nisso!

Publicado pelo JE&F de 27.09.24

domingo, 26 de outubro de 2025

MORANGUEIRO DO KAPOLO

Gabam-se os efectivos nacionais do Serviço Prisional que "a única penitenciária onde os detidos produzem o que comem" ou que, pelo menos, "produzem o suficiente para merecer a alimentação, saúde e acomodação que a instituição lhes proporciona é no Kapolo", penitenciária que fica na comuna da Xikala, a bons quilómetros da capital vyena. Outros, os mais conservadores, apontam o Bentiaba, antiga penitenciária de São Nicolau que acolheu muitos presos políticos (de consciência), como "a única que torra farinha com Kapolo" no que à produção agrícola diz respeito. 

Bem, é do Kapolo que recebi como oferta um pé de morangueiro, uma herbácea expansiva, que melhor se expande ao sol e solo húmido e rico em húmus. 

O meu morangueiro chegou com excesso de stress hídrico. Sem receber raios solares e rega durante a viagem e esquecida entre as imbambas, depois da chegada a Luanda. 

Foi por sorte que o encontrei. Não me fora apresentado como oferenda do meu cunhado SS Catombela. O gosto pelas plantas fez-me tentar ressuscitá-lo, o que julgo estar a acontecer, pois, há 4 dias no vaso e sobre meia luz solar, já apresenta uma folhinha nova e outra nascente. 

Foi ao terceiro dia que o SS Catombela ligou-me a perguntar:

_ Comué, nhado?! A garrafita de usambe e o morangueiro chegaram?

_ Usabem recebi e estou agradecido. Encontrei entre as coisas descarregadas um pé de morangueiro que levei a um vaso, com pena que secasse, mas não me foi apresentado.

_ Não faz mal. Assim a mana se esqueceu. O importante é que o mano descobrir e deu acolhimento à planta. Saiu do Kapolo.

A expressão "saiu do Kapolo" aumentou o meu apreço e cuidado para com o exemplar. É a segunda tentativa a ter morangueiro em casa. 

A primeira foi em 2021. Depois de um roteiro laboral que me levou ao Cipindo, Longondjo e Kuxi, viajando sobre rodas, passei pelo Luvangu onde comprei dois vasos contendo morangueiros. Talvez devido ao excesso de sombra e ou de calor, as plantinhas, que já faziam gosto aos vasos, foram minguando uma após outra, desaparecendo em semanas.

_ Essas plantas não se adaptam ao clima quente de Luanda. _ Disse para mim mesmo, sem que visitasse um estudo básico para aferir o que diz a ciência sobre o clima ideal ou adaptativo, assim como os melhores cuidados a observar para que o morangueiro sobreviva e produza.

O meu cunhado Sabino Salongue Catombela disse-me que ela, a herbácea perene, cresce melhor se exposta ao sol e em campo aberto, portanto, sem sombra. 

Consultada a literatura disponível, dita que o morangueiro pertence à família Rosaceae. É uma planta herbácea perene, o que significa que pode viver por vários anos, embora a produção de frutos seja mais intensa nos primeiros anos.

Em Angola, o cultivo de morangos é mais produtivo em regiões de clima temperado, ou seja, aquelas com temperaturas mais amenas e boa disponibilidade de água. Regiões como a Huíla e Huambo são conhecidas como as que possuem condições mais favoráveis para a agricultura de frutas.

Quanto a Luanda, embora possua um clima mais quente e seco, é possível cultivar morangos desde que se observem alguns cuidados especiais. Se tentar plantar morangueiros, opte por variedades que sejam mais resistentes ao calor. Mantenha o solo sempre húmido, mas evite encharcamento. A irrigação por gotejamento pode ser uma boa opção. Em climas muito quentes, é importante proteger as plantas do sol intenso. Utilize telas de sombreamento para reduzir a exposição directa ao sol durante as horas mais quentes do dia.

Os morangueiros preferem locais com muita luz solar, pois o ideal é que recebam pelo menos 6 horas de sol directo durante o dia. No entanto, em climas muito quentes como o de Luanda, um pouco de sombra durante as horas mais quentes pode ajudar a evitar o estresse térmico nas plantas.

PS: A Lúcia e o Joshua já provaram morangos da horta em Luanda.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

OS CICLOS E A UTILIDADE DO TOMATE

Quem anda pelas superfícies comerciais e pelos mercados (formais e informais) de Luanda e de outras cidades e vilas vê, com alguma “compaixão”, quanto tomate vai ao lixo por falta de comprador ou por se achar impróprio para a comercialização. As senhoras do mercado do Km 30, Viana, chamam-no “tomate tocado” e dão-no a “preço de oferta”, quando levar de graça o “tomate tocado” não se reverte em favor do cliente ao vendedor.

Soube que no Kwanza-Norte se estava a jogar tomate aos rio e lagoas para alimentar tilápia e bagres. Na Kabala, perto de Luanda, os parentes visitantes estão a ser brindados com caixas do tomate abundante, algo que também ocorre nas “nakas” de Ngulungu Alto e  Waku Kungu, só para citar regiões que tenho visitado com frequência. 

Isso ocorre porque o senso comum leva-nos a plantar o tomateiro em espaço aberto, entre o final da época seca, nas baixas e ou em terreno plano, sob regadio, dando-se a colheita no início da época quente, antes das grandes chuvas, evitando o rigor do frio escaldante que pode estressar as plantas. É também é sabido que o plantio prematuro do tomateiro pode resultar em danos causados pelo frio, enquanto o plantio tardio pode não permitir que os frutos amadureçam completamente antes da chegada da chuva.

Plantar tomateiros em regiões com alta pluviosidade, como Angola, pode ser desafiador, mas com as técnicas certas, é possível obter bons resultados. 

A drenagem deve ser adequada, evitando o encharcamento. Plantar em canteiros elevados pode ajudar a melhorar a drenagem.

O solo deve ter “cobertura morta” (mulching) para manter a humidade do solo equilibrada e reduzir o contato directo dos frutos com o solo.

Plante os tomateiros com espaçamento suficiente para permitir uma boa circulação de ar, o que ajuda a reduzir a humidade e prevenir doenças.

É importante o uso de estacas ou treliças para manter as plantas verticalizadas e os frutos longe do solo.

As pragas e doenças devem ser monitoradas regularmente e as plantas com sinais de doenças ou pragas devem ser tratadas prontamente com fungicidas ou pesticidas apropriados. 

A irrigação deve ser controlada para evitar excesso de água. Um sistema de irrigação por gotejamento pode ser útil para fornecer água directamente às raízes sem molhar as folhas.  

Locais ensolarados são ideais, pois os tomateiros precisam de pelo menos 6 a 8 horas de luz solar directa durante o dia.

Será que, estando a chuva a caminho, não se poderá plantar tomateiros e ter resultados?

Conseguem-se bons resultados em estufas que oferecem várias vantagens em comparação ao cultivo ao ar livre. Em uma estufa, é possível controlar factores como temperatura, humidade e luz, criando condições ideais para o crescimento dos tomateiros durante todo o ano, independentemente das condições climáticas externas.

A estufa oferece uma barreira física que dificulta a entrada de pragas e reduz a incidência de doenças, o que pode diminuir a necessidade de pesticidas.

O ambiente controlado permite o cultivo de tomateiros em densidades mais altas e durante todo o ano, o que pode aumentar significativamente a produtividade.

O tomate cultivado em estufa tende a ser de qualidade superior, com tamanho, cor e sabor mais uniformes, devido às condições de crescimento mais estáveis.

Os sistemas de irrigação em estufas, como o gotejamento, são mais eficientes, reduzindo o desperdício e garantindo que as plantas recebam a quantidade adequada de água directamente nas raízes.

Apesar do custo inicial mais alto para a construção e manutenção de uma estufa, a capacidade de produzir tomate de alta qualidade e fora da temporada pode resultar em preços mais altos no mercado (pois pode ser colhido e vendido no período de maior escassez), tornando o investimento mais rentável a longo prazo.

O que fazer com o tomate em excesso na praça (mercado de consumo) durante período de maiores colheitas?

Para conservar o tomate maduro por mais tempo, você pode deve manter tomate em temperatura ambiente, longe da luz directa do sol. Evite guardo na geleira, pois isso pode afectar a textura e o sabor.

Se o tomate estiver muito maduro e você não for usá-lo imediatamente, pode congelá-lo, devendo cortar em rodelas ou pedaços e colocá-los em uma bandeja para congelar e depois transfira para sacos plásticos. Pode usar posteriormente em molhos e sopas.

Pode ainda fazer conservas de tomate, como tomates confeitados ou em conserva de azeite. Isso pode prolongar a vida útil do tomate maduro por meses.

Uma outra saída é preparar molho de tomate caseiro e congelar em porções. Isso é útil para aproveitar tomate maduro e ter molho pronto para uso futuro.

Grandes quantidades de tomate têm aproveitamento industrial como:

1. Polpa e extracto de tomate: usados como base para molhos, sopas e outros produtos alimentícios.

2. Tomate desidratado: utilizado em temperos, sopas instantâneas e snacks.

3. Sumo de tomate: consumido como bebida ou usado em coquetéis.

4. Subprodutos: as peles e sementes do tomate, ricas em fibras e licopeno, são frequentemente usadas na alimentação animal ou em produtos de saúde e beleza.

5. Fermentação: tomate não amadurecido pode ser fermentado para criar produtos com características nutricionais melhoradas.

Logo, embora em Angola a colheita de tomate se verifique excedentária nos meses de Agosto e Setembro, é preciso aproveitar as vantagens da produção em estufa e investir-se na indústria de processamento de tomate para que este produto, indispensável à cozinha angolana e internacional, não escasseie e seja dado o devido aproveitamento ao excedente.

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Publicado pelo JE&F a 20 de Setembro de 2024

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

KIHUTU vs MBUNDI

Quem viaja pela EN120, sentido Ndondo-Kibala-Wambu, encontra, depois do Rio Longa, pessoas a venderem raízes de uma planta que os ambundu chamam "muxili" e os ovimbundu "mbundi".

A seiva desta raiz (não é tubérculo) possui propriedades adoçantes e fermentadoras, sendo usada para a fabricação de garapa, também conhecida como "wala" ou "kis(s)ângwa" e ainda para fermentar o composto destilável de que resulta a "makyakya" ou kaporroto.
Os aldeões põem-se no sertão em buca do arbusto e escavam as suas raízes que usam no seu dia a dia ou para comercializar aos que, tendo abandonado as zonas rurais, não se desfizeram dos hábitos alimentares e das memórias do seu tempo.
Surgem aqui os menos atentos que podem confundir o arbusto cujas raízes é o conhecido "mbundi" ou "muxili" e o "kihutu", possuindo, ambas, folhagens muito parecidas.
O "kihuto" não é mais do que "feijão-maluco" que, quando as folhas secam, pode dar uma dolorosa comichão a quem nelas se encoste.
O "kihutu" foi nossa tortura involuntária nos tempos de infância, sempre que fôssemos à caça de "kambwiji", lebres e pequenos antílopes. A pressa em vigiar e apanhar os animais que fugiam das queimadas, o fumo do capim acabado de arder e a desatenção faziam com que algumas vezes passássemos em território "minado" por este vegetal, resultando em uma comichão e coceira de caçar pulgas.
Se estiveres à procura de "mbundi" ou "muxili", raízes cuja seiva se adiciona ao rolão ou outros componentes para a produção da saborosa kisângwa, tome cuidado! Pode pôr a mão em "kihutu", o feijão-maluco, e sair daí endoidecido de dor. Procure sempre por um mais velho residente permanente e conhecedor da planta. Nunca vá sozinho à mata à procura de qualquer coisa que seja.
Umona akwambila s'ovita!¹
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1- Uma criança deve acatar conselhos!
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Publicado pelo JE&F a 13 de Setembro de 2024

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O GERGELIM

Nos meus tempos de infância no Lubolu, havia sempre nas lavras uma porção de terra em que, a par da jinguba (amendoim) se semeava o luketo (gergelim) que era colhido no momento certo, e as “cápsulas” contendo as sementinhas eram estendidas por cima de uma chama metálica ou de uma lona, expostos ao sol e em local de fraca ventania. Tal permitia que os invólucros se abrissem e as sementinhas não fossem arrastadas pelo vento. A mwamba (pasta de gergelim torrado e triturado) fazia o papel de óleo vegetal na carne seca e em outros condutos. O gergelim podia igualmente ser comido a solo, como se faz com a jinguba ou o girassol. Ultimamente, tem sido raro encontrar no Lubolu plantações de gergelim, seja em grandes ou pequenas extensões como acontecia nos anos oitenta do século XX.

Todavia, tenho observado alguns mais velhos a consumirem o gergelim como aperitivo. Há quem o trate de “recarga” energética. Também conhecido como sésamo, o gergelim é uma planta oleaginosa da família Pedaliaceae. Acredita-se que seja nativa do nordeste de África e da Ásia.

Ela desenvolve-se melhor em climas tropicais e subtropicais, com temperaturas médias entre 25°C e 30°C. A planta é resistente à seca e prefere solos profundos, bem drenados e férteis, com pH próximo da neutralidade (em torno de 7). Solos muito argilosos ou salinos devem ser evitados para que se tenha uma boa colheita.

O gergelim é altamente nutritivo e oferece diversos benefícios para a saúde, a saber:

Redução do colesterol: contém fibras e compostos que ajudam a reduzir o colesterol LDL e aumentar o HDL.

Controle da pressão arterial: rico em ácidos graxos poli-insaturados e antioxidantes.

Combate à prisão de ventre: as fibras presentes no gergelim ajudam na digestão.

Auxílio na perda de peso: aumenta a saciedade devido ao seu alto teor de proteínas e fibras.

Alívio da artrite: possui propriedades anti-inflamatórias.

Cicatrização de feridas: o óleo de gergelim tem propriedades antioxidantes.

Prevenção do câncer: contém antioxidantes que ajudam a prevenir o desenvolvimento de câncer.

Luanda possui um clima tropical, o que é favorável ao cultivo de gergelim. A planta pode adaptar-se bem às condições locais, desde que sejam seguidas as práticas adequadas de manejo do solo e irrigação. Para garantir uma boa produtividade do gergelim é importante certificar-se de que o solo esteja bem drenado e fértil; embora o gergelim seja resistente à seca, a irrigação adequada durante os períodos críticos de crescimento pode aumentar a produtividade; a plantação deve ser monitorada regularmente para evitar infestações e a colheita deve ser feita no momento certo para evitar a perda de sementes. Com esses cuidados, é possível obter uma boa colheita de gergelim em Luanda. Você já pensou em iniciar uma plantação de gergelim?

sábado, 16 de agosto de 2025

A MARULA OU MACUÁCUA

Em Janeiro deste ano (2024), revisitei Ondjiva, capital do Kunene, e pude, mais uma vez, rever e reavivar informações sobre a árvore "marula", designada em Moçambique (país que conheci e já visitei por duas vezes este ano) por "macuácua". Portanto, é uma árvore comum entre a flora dos dois países (Angola e Moçambique).

Sientificamente, Sclerocarya birrea, e também conhecida por Marula é uma árvore nativa da África Subsaariana e os seus frutos são muito apreciados por diversas comunidades por várias razões, sendo as mais conhecidas:

1. Utilidade para o homem: os frutos da Marula são consumidos frescos, sendo a sua polpa rica em nutrientes e tem um sabor agradável. Além disso, são fermentados para produzir bebidas alcoólicas tradicionais, como a "uca" em Moçambique e a "omagongo" em Angola. O óleo extraído das sementes da Marula é usado na indústria cosmética e na culinária.

2. Adaptabilidade em Angola: a Marula é encontrada em várias regiões de Angola, especialmente nas zonas subtropicais e tropicais onde o clima é adequado para o seu crescimento. A árvore é conhecida por sua capacidade de se adaptar a diferentes condições de solo e clima, o que a torna uma cultura potencialmente valiosa em áreas com recursos naturais limitados.

Além dos usos da fruta, dos cosméticos e da produção de bebidas fermentadas, a árvore Marula tem outras utilidades significativas:

3. Madeira: o tronco da Marula fornece madeira que é utilizada para diversos fins. Embora não seja a madeira mais dura, ela é suficientemente forte para ser usada em carpintaria, fabricação de móveis, construção de pequenas estruturas e criação de utensílios domésticos.

4. Casca: a casca da Marula tem propriedades medicinais e é usada na medicina tradicional. É conhecida por tratar problemas digestivos, febres e outras doenças. Também pode ser usada para fazer corantes naturais.

5. Folhas: as folhas da Marula são utilizadas como forragem para animais, sendo uma fonte importante de alimento para o gado em algumas regiões.

6. Sementes: além de serem usadas para extrair óleo, as sementes de Marula podem ser consumidas diretamente. Elas são ricas em proteínas e gorduras saudáveis.

7. Sombra e controle de erosão: a árvore Marula fornece sombra, o que é valioso em regiões quentes e áridas. As suas raízes ajudam a prevenir a erosão do solo, contribuindo para a conservação ambiental.

8. Polpa e resíduos: a polpa da fruta pode ser utilizada para fazer geleias, compotas e sucos. Os resíduos da produção de óleo e outras partes da planta podem ser usados como fertilizantes orgânicos.

A Marula é uma árvore multifuncional que oferece uma ampla gama de benefícios para as comunidades locais, desde a alimentação e saúde até a conservação ambiental e usos industriais.

A Marula ou "macuácua" não só oferece uma fonte alimentar significativa e diversificada, mas também tem um papel cultural importante, especialmente devido à produção de bebidas tradicionais e ao seu potencial económico na indústria de cosméticos e alimentos.

A árvore pode adaptar-se ao clima de Luanda, desde que observados alguns requisitos como:

Receber água suficiente durante a estação seca.

Solos bem drenados. A planta pode crescer em uma variedade de tipos de solo, incluindo solos arenosos e argilosos. Luanda possui solos arenosos em muitas áreas, o que pode ser adequado para a Marula.

A Marula é conhecida por sua resistência à seca, o que é uma vantagem significativa para a adaptação ao clima de Luanda, onde a estação seca pode ser bastante prolongada.

Para se adaptar bem, a Marula precisa de espaço suficiente para crescer, pois pode atingir uma altura considerável. Além disso, práticas adequadas de manuseamento, como irrigação suplementar durante períodos secos extremos, podem ajudar a garantir o seu crescimento saudável.

A árvore de marula (Sclerocarya birrea) é propagada por via da sementeira. As sementes de marula precisam de ser tratadas para acelerar a germinação, que pode ser demorada. É importante retirar a polpa do fruto, secar a semente e, em alguns casos, escarificá-la (lixar levemente a casca) para facilitar a germinação.

Agora que está mais informado, partilhe e tente o plantio de uma árvore de Marula ou Macuácua.

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Publicado pelo JE&F a 5 de Julho de 2024

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

LICURI

 É um pequeno coquinho de polpa amarela, rico em cálcio, magnésio e betacaroteno, além da grande concentração de cobre, zinco e selênio na sua amêndoa.

Tive uma plantinha que brotou em um vaso mas que não se adaptou ao transplante para terra firme.

Seu nome científico é Syagrus coronata e pode chegar a ter 12 metros de altura.

Syagrus coronata, conhecida popularmente como licuri ou ouricuri, é uma palmeira nativa do território semiárido brasileiro, especialmente das regiões Nordeste e Sudeste, como Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Em Angola é enconterada nop noroeste.  Cresce em áreas de clima tropical e subtropical, com chuvas sazonais e solos férteis, mesmo que secos ou pedregosos.

Adapta-se bem a climas secos e quentes, sendo resistente à seca e ao vento.

Pode ser cultivada em sol pleno, inclusive em solos calcários.É uma planta de crescimento lento, mas floresce durante a maior parte do ano. 

A Syagrus coronata é extremamente versátil e utilizada em diversas áreas:

Alimentação:

  • Fruto com polpa fibrosa e levemente adocicada, consumido cru.
  • Óleo das sementes usado na culinária e na produção de margarina.
  • Pith do caule utilizado para fazer pão.
  • Palmito (broto apical) consumido como vegetal — embora sua retirada leve à morte da planta.

Medicina tradicional:

  • Água do fruto usada para tratar inflamações oculares, micoses e feridas.
  • Chá da raiz indicado para dores na coluna.


  • Artesanato e construção: Folhas secas usadas para fazer vassouras, chapéus, espanadores.
  • Madeira utilizada localmente na construção civil.
  • Sementes usadas na confecção de terços e adornos.

Indústria:

  • Produz óleo rico em ácido láurico, com aplicações na indústria oleoquímica, cosmética e farmacêutica .
  • Produz cera vegetal (cera de licuri), usada para fazer tochas.

💚 Benefícios para o Homem

  • Fonte de nutrientes essenciais, como vitamina A, E e compostos fenólicos com propriedades antioxidantes .
  • Contribui para a segurança alimentar e subsistência de comunidades do semiárido.
  • Tem potencial energético, podendo ser usada na geração de biocombustíveis .
  • É considerada a “árvore salvadora da vida” por seu papel na sobrevivência de populações sertanejas .

quinta-feira, 24 de julho de 2025

OLHAR LEIGO AO "LIVRO" DE KAVUNGO MARLON

O Dr. Kavungo Marlon, PhD pela Universidade Patrice Lumumba, Moscovo, e antigo Director de Minas no extinto MGM, trouxe à leitura pública o seu livro (técnico) sob o título "Utilização de Rochas para as Culturas Agrícolas & Agrominerais de Angola"

Sendo eu leigo em matérias ligadas à Geologia, embora convivendo com Geólogos, Engenheiros de Minas e outros profissionais, há mais de vinte anos, atrevo-me a olhar simplesmente para o título e fazer uma incursão interpretativa. 

_ O que é que se percebe depois de se ler o título (a questão não é extensiva ao conteúdo da obra)?

 1. O título "Utilização de Rochas para as Culturas Agrícolas & Agrominerais de Angola" pode, a meu ver, gerar ambiguidade, pois o termo “rochas” em um sentido amplo (lato) pode não ser imediatamente associado ao uso agrícola, e isso pode confundir leitores que não estejam familiarizados com o conceito de agrominerais como insumos agrícolas derivados de rochas. 

2. Sendo os agrominerais rochas, nos parece, modestamente, evitável a redundância (rochas/agrominerais). 

3. A compreensão linear do que se anuncia no título nos parece polissêmico, visto que pode dar a ideia de que "As rochas são usadas para as culturas agrícolas & para os agrominerais de Angola" ou ainda anunciar dois temas distintos: 

(i) Utilização de rochas para as culturas agrícolas; 

(ii) Agrominerais de Angola. 

_ O que é que prevalece ou o que é que o título quer dizer, por outras palavras mais directas?

Nb: surge este questionamento, em virtude de a organização do acto de lançamento da obra, editora NHConteúdos não ter proporcionado à rica plateia um momento de interacção.

terça-feira, 15 de julho de 2025

A PODA EM REGIÕES TROPICAIS

Angola é um país tropical com duas estações: a chuvosa, que se estende de Maio a Agosto, e a seca que se prolonga de Agosto a Maio.

O período seco, em Angola, é conhecido como o que ocorre nos meses sem "r" (Maio, Junho, Julho e Agosto). Para os agricultores e "amadores" de árvores frutícolas é o melhor período para se efectuar a poda correctiva ou preventiva das árvores. Tal se deve ao facto de que a seca proporciona condições mais favoráveis para a cicatrização dos cortes, reduzindo o risco de infecções por fungos e outras doenças que são mais prevalecentes em períodos húmidos.
A prática de poda durante esses meses ajuda a garantir uma melhor saúde das árvores e uma recuperação mais eficiente após a poda. Outras vantagens da pode árvores frutícolas são:
Melhorar a produção de frutos: estimular o Crescimento de ramo frutífero que são mais produtivos e melhor distribuição de frutos ao longo da árvore, prevenindo sobrecarga em ramos específicos.
Qualidade dos frutos/aumento do tamanho dos frutos: com menos frutos na árvore, cada fruto pode receber mais nutrientes, resultando em frutos maiores e de melhor qualidade.
Melhor exposição ao sol: a poda melhora a penetração de luz solar, o que é crucial para o desenvolvimento e a maturação uniforme dos frutos.
Saúde da planta: a remoção de partes doentes, mortas ou danificadas permite prevenir a disseminação de doenças e pragas.
Melhora da circulação de ar: reduz a densidade da copa, aumentando a circulação de ar e reduzindo a humidade, o que diminui o risco de doenças fúngicas.
Manutenção e Estética: permite controlar
a forma e o tamanho manejável e esteticamente agradável.
Prevenção de quebra de galhos: evita a sobrecarga de galhos, prevenindo quebras que podem ser causadas pelo peso excessivo de frutos ou por ventos fortes.
Facilidade de colheita: o acesso melhorado torna a colheita dos frutos mais fácil e segura.
Uniformidade na colheita: facilita a colheita em etapas, garantindo que todos os frutos sejam colhidos no ponto de maturação ideal.
Longa vida útil da árvore: a poda regular pode rejuvenescer árvores mais velhas, prolongando sua vida produtiva.
Prevenção de problemas futuros: a remoção de brotos eventualmente problemáticos que podem tornar-se concorrentes ou causar problemas estruturais.
A prática regular e adequada da poda é fundamental para garantir que as árvores frutícolas permaneçam saudáveis e produtivas ao longo dos anos.
Somos detentores de árvores como: mangueiras, abacateiros, jabuticabeira, longaneiras, romãzeiras, videiras, cajamangueiras, figueira, anonáceas, oliveiras, cacaueiro, cafeeiros, goiabeiras, limoeiros, laranjeiras, tangerineiras, pitangueiras, amoreira, macieira-da-Índia, castanhola, gajajeira, sape-sapeiro, mamoeiros, etc., todas em Luanda.

terça-feira, 17 de junho de 2025

A GAJAJEIRA

A estória do "xixi que me atrasou seis anos" está ligada à da minha ligação afectiva à gajaja.

Quem passa pela Pousada do Nagana Mbubdu (Walter Kruk), também conhecida como Pousada da Mukonga, na EN 120, comuna da Munenga, Lubolu, ainda encontra a gajajeira que oferecia sombra aos vários passageiros das carreiras da Viriatos, EVA, ETP e ETIM, nos anos setenta e oitenta do século passado.

Naquela que seria e minha primeira viagem a Luanda (1978), anulada por causa de um maldito xixi nos calções, tínhamos chegado (minha mãe e eu) até ao Ngana Mbundu para apanhar um machimbombo até Luanda, tive o contacto mais directo com a árvore e suas frutas.

Já tinha, antes, provado o sabor doce e ácido da gajaja, mas nunca tinha desfrutado de forma intensa do seu cheiro característico e de sua sombra. Tenho hoje a gajajaeira como uma de minhas árvores de eleição e que tenho tentado (ainda sem logro) ter em casa.


A gajajeira é uma planta tropical, também conhecida como cajazeira e tem o nome científico de Spondias mombin. Originária da América tropical, é comumente encontrada em áreas tropicais da América Central e do Sul, incluindo a África Tropical. A gajajeira prospera em climas quentes e húmidos, preferindo temperaturas entre 25°C e 35°C e requer uma estação seca bem definida (como o nosso cassimbo) para a frutificação. A gajajeira é adaptável a uma variedade de solos, desde que sejam bem drenados.

A gajajeira pode adaptar-se bem ao clima de Luanda,  desde que receba os cuidados adequados e esteja protegida contra geadas e ventos fortes que podem prejudicar o seu crescimento. Por isso mesmo, plantámos (estaquia) três emplares, no Zango e Vila de Viana, que esperamos venham a germinar.

A fruta, gajaja, tem diversas utilidades, sendo consumidos frescos, usados na produção de sucos, geleias e sorvetes, e também são frequentemente utilizados na produção de doces e licores. Além disso, as suas folhas são utilizadas na medicina popular para o tratamento de diversas condições, como diarreia e inflamações.9

Os benefícios para o homem incluem o fornecimento de uma fonte de alimento nutritivo, rico em vitaminas A e C, além de minerais como cálcio, fósforo e ferro. A gajaja também é importante para a economia local, proporcionando renda para agricultores e contribuindo para a diversificação da produção agrícola. Além disso, o cultivo da gajajeira pode ajudar na preservação ambiental, já que a árvore pode ser utilizada para restauração de áreas degradadas e contribuir para a manutenção da biodiversidade.

sábado, 31 de maio de 2025

O MANJERICÃO

O nome sempre me soou bem. As mulheres que gostam de cozinhar e os chefes nos hoteis têm-no sempre à mão. Porém, custou tê-lo em casa, até que, passando por uma local turístico na Konda, Kwanza-Sul, pode obter um pequeno ramo que cuidei durante três dias de viagem para que chegasse vivo. Sob cuidados especiais, a erva adaptou-se ao clima e solo do Zango IV, estando a expandir-se com ramos já "emprestados" entre Viana e Prenda.


O manjericão é uma erva aromática bastante versátil e adaptável. Prefere temperaturas quentes e solos bem drenados. Dado que Luanda possui um clima tropical húmido, o manjericão pode prosperar bem, desde que receba bastante luz solar e seja regado regularmente, evitando encharcamento do solo.

O manjericão é amplamente utilizado na culinária para adicionar sabor e aroma aos pratos, especialmente em molhos, saladas, massas e pratos à base de tomate. Além disso, o manjericão também tem propriedades medicinais, sendo utilizado na medicina tradicional para tratar problemas digestivos, inflamações e até mesmo como repelente de insetos.

Entre os benefícios do manjericão, destacam-se suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antibacterianas, que podem ajudar a promover a saúde geral do corpo e fortalecer o sistema imunológico. Além disso, seu aroma pode ajudar a reduzir o estresse e promover uma sensação de calma e relaxamento.

Quer tentar? Basta um vaso com terra humificada, bem drenado e exposto à luz.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

A MUNGUBA OU CASTANHEIRA


Às vezes a encontramos em casas e fazendas (mais) como árvore decorativa, usada para matar a saudade ou marcar o engodo por plantas raras. De minhas largas caminhadas por cidades, vilas e fazendas não a encontrei (ainda) plantada em grande escala e com aproveitamento económico, embora seja uma planta facilmente adaptável aos climas angolanos e que, se plantada em quantidade, pode proporcionar boas colheitas com destino o mercado. Acompanhe a descrição:

Também conhecida como castanha-do-marajó, a munguba (pachira aquatica, de nome científico) é uma árvore nativa da Amazônia, pertencente à família das Bombacáceas. A semente da munguba é comestível e possui um sabor semelhante ao da castanha, daí o seu nome alternativo "castanha-do-pará". Ela é utilizada na culinária regional e também na produção de óleos e cosméticos. Além disso, a madeira da árvore é utilizada na fabricação de móveis e embarcações.

A munguba oferece diversos benefícios para os seres humanos, tais como:

1. As sementes da munguba são ricas em proteínas, fibras e gorduras saudáveis, fornecendo nutrientes essenciais para o corpo humano.

2. Devido ao seu teor de gorduras saudáveis, as sementes de munguba podem fornecer energia sustentada ao longo do dia.

3. As gorduras presentes nas sementes da munguba, como os ácidos graxos insaturados, podem ajudar a promover a saúde cardiovascular, reduzindo o risco de doenças cardíacas.

4. A munguba contém compostos antioxidantes que ajudam a combater os danos causados pelos radicais livres no corpo, contribuindo para a saúde celular e o envelhecimento saudável.

5. O óleo extraído das sementes da munguba é rico em ácidos graxos essenciais e vitaminas que ajudam a manter a saúde da pele e do cabelo, podendo ser usado em produtos cosméticos.

6. As sementes da munguba são uma boa fonte de fibras, que são importantes para a saúde digestiva, ajudando na regulação do trânsito intestinal e na prevenção de problemas como a constipação.

7. Em algumas culturas, a munguba é usada na medicina tradicional para tratar uma variedade de condições, como problemas digestivos, inflamações e infecções.

Embora a munguba ofereça diversos benefícios à saúde, deve ser consumida com moderação e como parte de uma dieta equilibrada.

A planta prospera em climas tropicais húmidos, preferencialmente onde haja temperaturas elevadas e chuvas bem distribuídas ao longo do ano, como as florestas tropicais. Os solos, embora húmidos devem estar drenados.

A árvore de munguba começa a produzir sementes comestíveis entre 4 a 8 anos de idade, dependendo do tipo de clima, solo e tratamento. Possuindo Luanda um clima tropical húmido, com temperaturas elevadas ao longo do ano e uma estação chuvosa bem definida, a planta desenvolve-se com facilidade e pode entrar em produção precocemente.

Possuo uma castanheira (mungubeira) no Zango IV que entrou em produção em menos de 3 anos de plantio. Se quiser seguir-me o exemplo, atenda ao seguinte:

Certifique-se de que o solo esteja bem drenado e rico em matéria orgânica. A munguba prefere solos férteis e profundos.

A mungubeira tolera períodos curtos de seca. Porém, é importante irrigá-la adequadamente durante os períodos de estiagem prolongada, sobretudo nos primeiros anos de crescimento.

A planta jovem é sensível a ventos fortes. Plante as mudas em áreas protegidas ou use quebra-ventos para reduzir os danos causados pelo vento.

Faça o controle de pragas para detectar sinais de infestação e, se tal acontecer, use inseticidas ou fungicidas.

Fertilize a planta regularmente com adubos orgânicos ou químicos balanceados para promover um crescimento saudável e uma boa produção de frutos.

Realize podas regulares para remover galhos secos ou danificados, promovendo o crescimento vigoroso da planta.

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Publicado no JE&F de 29.03.24

sábado, 3 de maio de 2025

MANGUSTÃO

É uma fruta tropical conhecida e admirada pelo seu sabor doce e levemente ácido. É originária do Sudeste Asiático e popular em muitas regiões tropicais do mundo, embora não muto conhecida em Angola.

O mangustão tem uma casca roxa espessa e dura. A sua polpa é branca, suculenta e dividida em segmentos. A fruta é, muitas vezes, chamada de "rainha das frutas" devido ao seu sabor delicado e propriedades nutritivas. Além disso, o mangustão é rico em antioxidantes, vitaminas e minerais.
Procedente da China, a caminho de Luanda, a minha colega Lídia Lopes provocou-me, num dos hotéis de Dubai em que tomávamos o pequeno-almoço a provar o mangustão.
Em princípio, a minha resposta tendia para o "não", tendo sido convencido pela réplica dela quando a perguntei se "a fruta tinha sementes". Provei a fruta e levei algumas sementes no bolso, andando perdidas meses na mala. Descobertas, levei-as a um vaso e tenho uma muda de mangustão que, se chegar à vida adulta, terá (no meu pequeno pomar caseiro) o nome dela. Lídia!
Para o bom desenvolvimento e produtividade do mangustão, são essenciais os seguintes fatores ambientais:

Clima: tropical quente e húmido. Requer temperaturas entre 25°C e 35°C e não tolera geadas ou temperaturas abaixo de 4°C.

Precipitação: a planta necessita de alta umidade e uma precipitação anual entre 1.500 mm e 2.500 mm, distribuída ao longo do ano. Humidade constante é crucial, especialmente durante os primeiros anos de crescimento.

Solo: os ideais são os profundos, ricos em matéria orgânica e bem drenados. O pH do solo deve estar entre 5,5 e 6,8. Solos muito argilosos ou arenosos devem ser evitados.

Sombreamento: o mangustão precisa de sombreamento parcial nos primeiros anos de vida. Árvores mais maduras podem tolerar pleno sol, mas sombra moderada pode ser benéfica.

Espaçamento e poda: as árvores precisam de espaço suficiente para crescer, com espaçamento de aproximadamente 8 a10 metros entre elas. A poda regular ajuda a manter a forma da árvore e a promover a circulação de ar.

Drenagem: a drenagem adequada é essencial para evitar a podridão das raízes, uma vez que o mangustão é sensível ao encharcamento.

Manutenção: rega regular, controle de pragas e doenças, além da adubação adequada, são práticas cruciais para garantir a saúde e a produtividade da planta.

Com esses cuidados, o mangustão pode desenvolver-se bem em Angola, produzindo frutos de alta qualidade.
Eu estou a tentar e você também pode!

sexta-feira, 25 de abril de 2025

UMA ACEROLA EM VIANA

Em 2020, ganhámos duas aceroleiras que haviam sido plantadas no parque da Kam&mesa, no Zango IV. Quando decidi criar galinhas-do-mato (Numida meleagris) como animais de estimação, elas provaram a seiva das árvores, ainda jovens, e debicaram toda a casca, o que acabou por provocar a seca das plantas. É que a “vida da planta” circula pela casca (floema) e não pelo interior do tronco.

aceroleira (Malpighia emarginata) é uma planta típica das Américas tropicais, com origem provável na região da Mata Atlântica brasileira. A fruta, conhecida como acerola, é pequena, arredondada, de cor vermelha intensa quando madura, e possui uma polpa suculenta, de sabor ácido e refrescante.

Adapta-se bem a diferentes tipos de solo e climas, desde que não sejam sujeitos a geadas ou frio intenso. O clima tropical húmido de Luanda oferece condições para o seu cultivo.

A acerola é excelente para o sistema imunológico! Ela é uma das frutas com maior concentração de vitamina C — podendo conter até 100 vezes mais do que a laranja. Essa vitamina é essencial para:

  • Fortalecer as defesas naturais do corpo, aumentando a produção e eficácia dos glóbulos brancos, que combatem infecções.
  • Prevenir e combater doenças comuns, como gripes, resfriados, sinusites e outras infecções.
  • Atuar como antioxidante, protegendo as células contra os danos causados pelos radicais livres.

Além disso, a acerola também ajuda na absorção de ferro, o que é importante para prevenir a anemia e manter o corpo energizado.


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Publicado a 12 de Julho de 2024 pelo JE&F

sexta-feira, 4 de abril de 2025

BAMBU

Em 2007 "comprei" uma parcela de terra no bairro Vila Nova, em Viana (Luanda) que apresentava propensão para enravinamento , pois está situando à beira da vala que conduz as águas pluviais e urbanas (de Viana) à Lagoa de Terembembe.

Conhecendo as propriedades estabilizadoras de solos do bambu, decidi levar de Catoca, Lunda Sul, uma porção de mais ou menos 40 centímetros em uma mochila que, sob cuidados de rega, germinou e se está a reproduzir em grande escala, sendo "resgatário" de vizinhos e outros interessados em estabilizar solos ou formar uma cortina contra poeiras e ventos.

O bambu é uma planta de origem asiática, conhecida por suas propriedades versáteis e sustentáveis. A Sua importância na estabilização de solos e na criação de ambientes propícios para o crescimento está relacionada a vários fatores:
1. Raízes robustas: O sistema radicular do bambu é extenso e eficaz na prevenção da erosão do solo. As raízes ajudam a estabilizar encostas e margens de rios, reduzindo os riscos de deslizamentos de terra.
2. Crescimento rápido: O bambu é uma planta de crescimento rápido, o que o torna uma escolha eficaz para a rápida cobertura do solo e a proteção contra a erosão. Sua capacidade de regeneração é notável.
3. Fixação de carbono: O bambu é uma cultura eficiente na fixação de carbono atmosférico. O rápido crescimento e a absorção de dióxido de carbono contribuem para a redução dos gases de efeito estufa.
4. Material de construção sustentável: Além de suas propriedades no ambiente natural, o bambu é valorizado como um material de construção sustentável. Sua resistência e leveza tornam-no adequado para uma variedade de aplicações, desde construções simples até estruturas mais elaboradas.
5. Biodiversidade: O cultivo de bambu pode promover a biodiversidade, oferecendo habitats para várias espécies. Suas folhas caídas podem enriquecer o solo, contribuindo para um ecossistema equilibrado.
Ao utilizar o bambu para a estabilização de solos, plantio de cortinas corta-vento ou para promover um ambiente propício para o crescimento, os benefícios ambientais e sustentáveis são evidentes. Tente.

domingo, 16 de março de 2025

A BANANA ROXA

Sempre que procuro reavivar memórias de Kitumbulu, fazenda de meu avô paterno, onde vivi da nascença aos 4 anos, uma das imagens que sempre chegou à frente das outras é a da bananeira roxa. Aos olhos de então (garoto de 4 anos), a bananeira roxa parecia infindável e única/distinta naquela horta em que o meu pai escondia as bananas debaixo das folhas secas e nos metíamos a farejar para encontrar as bananas maduras com que nos deliciávamos até que "não houvesse mais barriga".

No meu imaginário de menino, a singularidade da banana roxa rivalizava apenas com a árvore (enxertada) que produzia laranjas e goiabas. Saber enxertar é, ainda, um de meus desideratos.

Voltemos à banana roxa. Sempre quis ter uma amostra da bananeira, quer quando vivia no Lubolu, quer em Luanda.

Oferecida por Fragata de Morais

Descobri, por via das interações que as redes sociais facilitam, aperceber-me que o mais velho Fragata de Morais tinha a espécie em sua casa, no istmo de Luanda. Palavras mais palavras, e como temos a literatura e a União dos Escritores em comum, lá o mwadyakime convidou-me para visitá-lo, acompanhado de uma raridade (plantas) que tenho, a fim de me ofertar um pé de bananeira roxa.

Recebi-a um "botãozito", mas já exibiu 5 novas folhas em quase um mês.

A banana roxa (ou banana vermelha) é uma variedade que se distingue pela cor da casca, que varia de vermelho a roxo. É originária do sudeste asiático, mas actualmente é cultivada em várias regiões tropicais do mundo, incluindo Angola.


As condições ideais para o seu cultivo incluem:

- Clima tropical e subtropical, necessitando de temperaturas quentes, geralmente entre 20°C e 30°C.

- Solo bem drenado e fértil, preferencialmente ricos em matéria orgânica e com boa drenagem.

- Quanto à água, requer irrigação adequada, com solo mantido constantemente húmido, mas não encharcado.

- Demanda luz solar, pois a bananeira roxa cresce melhor em áreas com luz solar directa, mas também pode tolerar sombra parcial.

Os benefícios para o as saúdes do homem incluem:

- Riqueza em nutrientes: contêm vitaminas C e B6, fibras, potássio e antioxidantes.

- Propriedades antioxidantes: a cor roxa indica a presença de antocianinas que ajudam a combater os radicais livres no corpo.

- Digestão: o alto teor de fibras auxilia na digestão e promove a saúde intestinal.

- Energia: como outras variedades de banana, fornecem uma boa fonte de energia rápida devido ao seu conteúdo de carboidratos.

Luanda, capital de Angola, possui um clima tropical semi-árido, com temperatura média anual entre 24°C e 30°C, estação seca e estação chuvosa, chuva concentrada nos meses de março e abril, com uma estação seca prolongada.

Dado o clima tropical e as temperaturas adequadas de Luanda, é possível cultivar bananas roxas com bons resultados, desde que sejam tomadas precauções como:

- Irrigação durante a estação seca, implementando um sistema de irrigação para garantir que as plantas recebam água suficiente durante o período seco.

- Garantir que o solo seja bem drenado e enriquecido com matéria orgânica para proporcionar os nutrientes necessários às plantas.

Se essas condições forem atendidas, a banana roxa pode ser cultivada com sucesso em Luanda, oferecendo uma alternativa nutricionalmente rica e diversificada para a população local.

quarta-feira, 5 de março de 2025

MANGA

É originária do sul da Ásia, com registos de cultivo na Índia e no sudeste asiático há milhares de anos. Actualmente, é cultivada em regiões tropicais e subtropicais em muitas partes do mundo.

O consumo de manga pode trazer vários benefícios à saúde devido à sua riqueza em nutrientes. Aqui estão alguns benefícios associados ao consumo de mangas: 1. Vitaminas e Antioxidantes: Mangas são ricas em vitaminas A, C e E, bem como em antioxidantes, contribuindo para a saúde celular e combatendo o estresse oxidativo. 2. Saúde Ocular: A vitamina A presente nas mangas é essencial para a saúde dos olhos e pode ajudar na prevenção de problemas oculares. 3. Digestão saudável: A fibra dietética nas mangas pode auxiliar na digestão e promover a regularidade intestinal. 4. Hidratação: Devido ao seu alto teor de água, as mangas ajudam na hidratação do corpo. 5. Saúde da pele: Os antioxidantes presentes nas mangas podem contribuir para a saúde da pele, ajudando na redução de danos causados pelos radicais livres.

O tempo para uma mangueira começar a produzir frutas pode variar. Em condições ideais, pode levar de 2 a 4 anos para que uma árvore jovem comece a dar frutos. No entanto, a produção completa geralmente ocorre alguns anos depois.
A manga prospera em climas tropicais e subtropicais, com temperaturas quentes. Ela requer uma estação seca para estimular a floração e uma estação chuvosa para garantir um bom desenvolvimento dos frutos. Solo bem drenado é essencial.
Temo-la em Viana e Zango IV (Luanda).

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

TENTANDO CARAMBOLA EM LUANDA

Depois de duas tentativas em trazer de Cabinda uma artocarpus altilis (fruta pão), desta vez trouxe uma carambola, cujas sementes estão no "sequeiro" para as levar ao vaso e esperar que rebentem algumas plantinhas como aconteceu com as sementes de mangustão trazidas do Dubai.

O nome científico da carambola é Averrhoa carambola e é originária do sudeste da Ásia, especialmente da Índia, Sri Lanka e Malásia, preferindo solos férteis, bem drenados e ligeiramente ácidos, com pH entre 5,5 e 6,5. A carambola adapta-se bem a climas tropicais e subtropicais, com temperaturas médias entre 25°C e 30°C. Requer alta humidade relativa e precipitação anual entre 1.200 e 2.500 mm.

Bem, eu vivo e pretendo ter carambolas em Luanda cujo clima é tropical quente e húmido que se mostra favorável para o cultivo da planta. Todavia, para ter sucesso, caso consiga ter umas plantinhas, a irrigação será necessária durante períodos de seca para garantir um bom desenvolvimento das plantas, visto que a carambola não é muito resistente à estiagem prolongada. Por outro lado, a falta de água pode prejudicar o desenvolvimento dos frutos e a saúde da planta.

Cuidados a observar passam por:

- Manter o solo húmido, especialmente durante a floração e frutificação.

- Realizar podas regulares para remover galhos secos ou doentes e estimular a produção de frutos.

- Aplicar adubos orgânicos e fertilizantes ricos em nitrogênio, fósforo e potássio (NPK).

- Controlar a presença de pragas como moscas-das-frutas e aplicar métodos de controle biológico ou químico quando necessário.

A carambola é rica em vitamina C, antioxidantes, fibras dietéticas e minerais como potássio e magnésio.

Ajuda no fortalecimento do sistema imunológico, melhora a digestão, e contribui para a saúde cardiovascular. Pode ser consumida fresca ou usada em sumos, saladas, sobremesas e pratos salgados devido ao seu sabor doce e levemente ácido. Contendo baixo teor calórico, é óptima opção para dietas de baixa caloria.

A carambola é uma fruta versátil, com diversos benefícios para a saúde e adaptável a diferentes condições de cultivo, tornando-se uma excelente adição a pomares em regiões tropicais como Luanda. Você também pode tentar e, quiçá, partilhar resultados.

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Publicado pelo JE&F a 09 e 30 de Agosto de 2024