As primeiras teorias económico-demográficas com que me familiarizei, ainda como estudante no IMEL (Curso Médio de Jornalismo, 1993-96) foram de Thomas Malthus, economista britânico de defendia a “punção demográfica”, considerando importante o controle do aumento populacional (teoria conhecida como malthusianismo), visto que, enquanto os meios de subsistências crescem em progressão aritmética, a população cresce em progressão geométrica, sendo que “a melhoria da humanidade seria impossível sem limites rígidos para a reprodução”.
Tendo vivido entre 1766
a 1834, o “pai
da demografia”,
clérigo anglicano, economista e matemático, teorizou ainda “desconhecer que algum escritor aventasse a
possibilidade de o
homem da terra puder viver sem comida."
Vagueando pelo WhatsApp, deparei-me com um scheenshot de uma página do livro História Económica de Angola,
relatando o “quadro geral de exportações de Angola entre 1946 e 1947”, em
volume e valor. Em 1946, a população de Angola era de aproximadamente 2 milhões
(Dilolwa, 1978), produzindo-se naquele ano 115 mil toneladas de milho.
Angola, com seus 1246700 Km2, conta perto de 33 milhões de
habitantes, em 2022, uma densidade média de 26,46h/km2.
No
Brasil, por exemplo, para além de servir ao consumo humano, o milho é um
componente fundamental das rações destinadas à criação animal, distribuído da
seguinte forma: 63,5 % na avicultura de corte; 59,5 % na avicultura de postura;
65,5 % na suinocultura; 23 % na pecuária de leite (em equilíbrio com a
participação do farelo de trigo 23% e farelo de algodão 20%.
Segundo ainda
a página www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho (consultada a 22.10.22), no Brasil o milho responde a
cerca de 70% do custo de produção de aves e suínos, ao passo que na alimentação
humana, o consumo anual per capita é de 18 kg em média, um indicador que pode
estar abaixo do consumo humano do milho em Angola onde o funji ou pirão, a
kanjika, a massaroca e o lukangu imperam à mesa dos cidadãos nacionais de
vários extratos sociais.
Como aumentar a felicidade das pessoas sem aumentar a
produção ou como fazer com que haja equilíbrio entre terra, povoamento e
produção alimentar?
www.poupainvest.com (22.06.22)
diz que Angola precisa cultivar 500 mil hectares de milho para poder satisfazer
as necessidades de consumo de milho e seus derivados, sendo que (em 2020) a produção nacional é/era
apenas de cerca de 2 milhões de toneladas por ano, cerca de 40% da necessidade
anual.
Terra humífera, água, vias de
comunicação, energia eléctrica e telecomunicações são alguns itens a ter em
conta.
Sendo que o
sector de Energia diz “haver superavit em termos de produção de energia",
havendo apenas “constrangimentos a ultrapassar na transportação e distribuição”,
defendo:
1-
Redistribuição de terras ociosas detidas por gente
estranha à agricultura ou que a não pratica àqueles que estão empenhadas na
lavoura;
2-
Preservação de terras comunitárias e passagem de
títulos para usufruto, afastando a sua usurpação por elementos estranhos às
comunidades;
3-
Potenciação de cooperativas agrícolas e atribuição de
personalidade jurídica para que possam socorrer-se de créditos e outros
serviços bancários;
4-
Aplicação da ciência na agricultura: acompanhamento regular
e qualitativo dos processos e ciclos agrícolas por técnicos especializados;
5-
Mecanização agrícola;
6-
Electrificação do campo, levando a energia eléctrica
às fontes de água e permitir o bombeamento desta. Neste quesito, a Fazenda PIP, em Cacuso, é bom
exemplo, tendo baixado consideravelmente os seus custos ao substituir o
bombeamento de água por via de energia termo-eléctrica pela da rede pública;
7-
Construção de vias de comunicação (estradas) nas áreas
de produção para facilitar a circulação (abastecimento e escoamento);
8-
Implantação de telecomunicações nas zonas de produção
para permitir a mobilidade e permanência de capital humano qualificado nas
zonas rurais e fomentar o repovoamento do campo;
9-
Levar a indústria de conservação e transformação ao
campo (a exemplo da Rússia do final do séc. XIX e princípios do séc. XX) e
acrescentar valor agregado às commodities;
10-
Apostar numa agropecuária e indústria transformadora
apostada na qualidade, de acordo às normas internacionais, competindo em
igualdade de circunstâncias com os produtos agroindustriais da região e do
mundo.
Seguindo a lógica do crescimento demográfico, se em 1946, em que éramos 2 milhões de habitantes, a produção ascendia a 115 mil toneladas de milho/ano, aos 33 milhões de habitantes devíamos estar próximos de 4 milhões de ton/ano para gerar "equilíbrio" entre o saldo populacional e o suprimento de necessidades alimentares. E estamos a falar apenas de milho, sem ter em conta outros bens da cesta básica.
Por último, é importante manter a agricultura como base e a indústria como factor decisivo do nosso desenvolvimento.
Obs: publicado pelo Jornal de Economia & Finanças de 24.06.2022
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