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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

MEMÓRIAS DO ANO EM QUE NÃO CHOVEU

Há já bons anos, houve um ano em que (quase) não choveu. Foi o 3° ano do pós-independência. Um ano antes, traçava-se o principal objectivo do ano seguinte e, bem no discurso de fim-de-ano, baptizavam-se os nascentes 365 dias com um lema: 1978 - Ano da Agricultura. E não choveu!

Lembro-me, ainda garotinho, do sofrimento de nossas mães carregando a mandioca até às "ndungas" lá aonde houvesse sobras de água em um rio que até então fora de curso permanente. E a mandioca apodreceu debaixo da terra ressequida. Outra era colhida para consumo tinha a forma esponjosa. As mandioqueiras secaram. Kizaka não havia, tirando na kitaka (horta) aonde as mamãs acorreram, às pressas, para salvar o que era possível da sementeira e saciar a fome que é e sempre foi inclemente. Os mais velhos recorreram, rápidos, aos "livros" guardados em suas memórias. Viajaram ao ano _xis_ da sua memória e rebuscaram algumas práticas de escape utilizadas em situações homólogas e a elas incrementaram novas ideias.
Fizeram pequenos diques para aproveitar o fio d'água que restava. Foram agricultar nos vales, zonas baixas anteriormente propensas a inundações, e aproveitaram a pouca água que se acumulava durante a noite para a rega matinal.
Eventualmente soubessem, talvez não. Os vales são locais de deposição de matéria orgânica, terra fértil por natureza, proporcionando boas colheitas e abundância.
Lembro ainda do peixe, salvação nossa enquanto _conduto_. Como todos seguíamos o curso do rio e o fiozito d'água até às represas naturais e artificiais (estas últimas feitas pelo engenho criativo derivado da crise), os bagres, sobretudo, misturavam-se às mandiocas em processo de demolha na ndunga, sendo apanhados à mão enquanto se retirava a mandioca demolhada para a seca e feitura da fuba. Outros peixes encontravam conforto nas represas e eram apanhados no processo de rega, quando a água minguasse. Só a caça era farta. Os pontos em que se achasse rastilhos de água eram de encontro entre homens famintos e animais sedentos. E tudo ficava mais fácil ao caçador que, tomando medidas de segurança para não ser caçado por leões e outras feras, abatia os animais possíveis para a sua dieta. Muita carne era trocada por cereais saídos de longe. E assim nos alimentámos naquele ano em que não houve chuva (quase) nenhuma. Foi no Ano da Agricultura.
Seja em tempo de chuvas fartas ou escassas, o aproveitamento dos vales, repletos de húmus, é crucial para a obtenção de boas colheitas, assim como a construção de pequenos diques e açudes para a reserva de água que pode ser usada para a irrigação. Plantas permanentemente regadas, que não dependam da caridade dos céus, têm mais saúde e proporcionam melhores rendimentos.

Pense nisso!

Publicado pelo JE&F de 27.09.24

domingo, 26 de outubro de 2025

MORANGUEIRO DO KAPOLO

Gabam-se os efectivos nacionais do Serviço Prisional que "a única penitenciária onde os detidos produzem o que comem" ou que, pelo menos, "produzem o suficiente para merecer a alimentação, saúde e acomodação que a instituição lhes proporciona é no Kapolo", penitenciária que fica na comuna da Xikala, a bons quilómetros da capital vyena. Outros, os mais conservadores, apontam o Bentiaba, antiga penitenciária de São Nicolau que acolheu muitos presos políticos (de consciência), como "a única que torra farinha com Kapolo" no que à produção agrícola diz respeito. 

Bem, é do Kapolo que recebi como oferta um pé de morangueiro, uma herbácea expansiva, que melhor se expande ao sol e solo húmido e rico em húmus. 

O meu morangueiro chegou com excesso de stress hídrico. Sem receber raios solares e rega durante a viagem e esquecida entre as imbambas, depois da chegada a Luanda. 

Foi por sorte que o encontrei. Não me fora apresentado como oferenda do meu cunhado SS Catombela. O gosto pelas plantas fez-me tentar ressuscitá-lo, o que julgo estar a acontecer, pois, há 4 dias no vaso e sobre meia luz solar, já apresenta uma folhinha nova e outra nascente. 

Foi ao terceiro dia que o SS Catombela ligou-me a perguntar:

_ Comué, nhado?! A garrafita de usambe e o morangueiro chegaram?

_ Usabem recebi e estou agradecido. Encontrei entre as coisas descarregadas um pé de morangueiro que levei a um vaso, com pena que secasse, mas não me foi apresentado.

_ Não faz mal. Assim a mana se esqueceu. O importante é que o mano descobrir e deu acolhimento à planta. Saiu do Kapolo.

A expressão "saiu do Kapolo" aumentou o meu apreço e cuidado para com o exemplar. É a segunda tentativa a ter morangueiro em casa. 

A primeira foi em 2021. Depois de um roteiro laboral que me levou ao Cipindo, Longondjo e Kuxi, viajando sobre rodas, passei pelo Luvangu onde comprei dois vasos contendo morangueiros. Talvez devido ao excesso de sombra e ou de calor, as plantinhas, que já faziam gosto aos vasos, foram minguando uma após outra, desaparecendo em semanas.

_ Essas plantas não se adaptam ao clima quente de Luanda. _ Disse para mim mesmo, sem que visitasse um estudo básico para aferir o que diz a ciência sobre o clima ideal ou adaptativo, assim como os melhores cuidados a observar para que o morangueiro sobreviva e produza.

O meu cunhado Sabino Salongue Catombela disse-me que ela, a herbácea perene, cresce melhor se exposta ao sol e em campo aberto, portanto, sem sombra. 

Consultada a literatura disponível, dita que o morangueiro pertence à família Rosaceae. É uma planta herbácea perene, o que significa que pode viver por vários anos, embora a produção de frutos seja mais intensa nos primeiros anos.

Em Angola, o cultivo de morangos é mais produtivo em regiões de clima temperado, ou seja, aquelas com temperaturas mais amenas e boa disponibilidade de água. Regiões como a Huíla e Huambo são conhecidas como as que possuem condições mais favoráveis para a agricultura de frutas.

Quanto a Luanda, embora possua um clima mais quente e seco, é possível cultivar morangos desde que se observem alguns cuidados especiais. Se tentar plantar morangueiros, opte por variedades que sejam mais resistentes ao calor. Mantenha o solo sempre húmido, mas evite encharcamento. A irrigação por gotejamento pode ser uma boa opção. Em climas muito quentes, é importante proteger as plantas do sol intenso. Utilize telas de sombreamento para reduzir a exposição directa ao sol durante as horas mais quentes do dia.

Os morangueiros preferem locais com muita luz solar, pois o ideal é que recebam pelo menos 6 horas de sol directo durante o dia. No entanto, em climas muito quentes como o de Luanda, um pouco de sombra durante as horas mais quentes pode ajudar a evitar o estresse térmico nas plantas.

PS: A Lúcia e o Joshua já provaram morangos da horta em Luanda.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

OS CICLOS E A UTILIDADE DO TOMATE

Quem anda pelas superfícies comerciais e pelos mercados (formais e informais) de Luanda e de outras cidades e vilas vê, com alguma “compaixão”, quanto tomate vai ao lixo por falta de comprador ou por se achar impróprio para a comercialização. As senhoras do mercado do Km 30, Viana, chamam-no “tomate tocado” e dão-no a “preço de oferta”, quando levar de graça o “tomate tocado” não se reverte em favor do cliente ao vendedor.

Soube que no Kwanza-Norte se estava a jogar tomate aos rio e lagoas para alimentar tilápia e bagres. Na Kabala, perto de Luanda, os parentes visitantes estão a ser brindados com caixas do tomate abundante, algo que também ocorre nas “nakas” de Ngulungu Alto e  Waku Kungu, só para citar regiões que tenho visitado com frequência. 

Isso ocorre porque o senso comum leva-nos a plantar o tomateiro em espaço aberto, entre o final da época seca, nas baixas e ou em terreno plano, sob regadio, dando-se a colheita no início da época quente, antes das grandes chuvas, evitando o rigor do frio escaldante que pode estressar as plantas. É também é sabido que o plantio prematuro do tomateiro pode resultar em danos causados pelo frio, enquanto o plantio tardio pode não permitir que os frutos amadureçam completamente antes da chegada da chuva.

Plantar tomateiros em regiões com alta pluviosidade, como Angola, pode ser desafiador, mas com as técnicas certas, é possível obter bons resultados. 

A drenagem deve ser adequada, evitando o encharcamento. Plantar em canteiros elevados pode ajudar a melhorar a drenagem.

O solo deve ter “cobertura morta” (mulching) para manter a humidade do solo equilibrada e reduzir o contato directo dos frutos com o solo.

Plante os tomateiros com espaçamento suficiente para permitir uma boa circulação de ar, o que ajuda a reduzir a humidade e prevenir doenças.

É importante o uso de estacas ou treliças para manter as plantas verticalizadas e os frutos longe do solo.

As pragas e doenças devem ser monitoradas regularmente e as plantas com sinais de doenças ou pragas devem ser tratadas prontamente com fungicidas ou pesticidas apropriados. 

A irrigação deve ser controlada para evitar excesso de água. Um sistema de irrigação por gotejamento pode ser útil para fornecer água directamente às raízes sem molhar as folhas.  

Locais ensolarados são ideais, pois os tomateiros precisam de pelo menos 6 a 8 horas de luz solar directa durante o dia.

Será que, estando a chuva a caminho, não se poderá plantar tomateiros e ter resultados?

Conseguem-se bons resultados em estufas que oferecem várias vantagens em comparação ao cultivo ao ar livre. Em uma estufa, é possível controlar factores como temperatura, humidade e luz, criando condições ideais para o crescimento dos tomateiros durante todo o ano, independentemente das condições climáticas externas.

A estufa oferece uma barreira física que dificulta a entrada de pragas e reduz a incidência de doenças, o que pode diminuir a necessidade de pesticidas.

O ambiente controlado permite o cultivo de tomateiros em densidades mais altas e durante todo o ano, o que pode aumentar significativamente a produtividade.

O tomate cultivado em estufa tende a ser de qualidade superior, com tamanho, cor e sabor mais uniformes, devido às condições de crescimento mais estáveis.

Os sistemas de irrigação em estufas, como o gotejamento, são mais eficientes, reduzindo o desperdício e garantindo que as plantas recebam a quantidade adequada de água directamente nas raízes.

Apesar do custo inicial mais alto para a construção e manutenção de uma estufa, a capacidade de produzir tomate de alta qualidade e fora da temporada pode resultar em preços mais altos no mercado (pois pode ser colhido e vendido no período de maior escassez), tornando o investimento mais rentável a longo prazo.

O que fazer com o tomate em excesso na praça (mercado de consumo) durante período de maiores colheitas?

Para conservar o tomate maduro por mais tempo, você pode deve manter tomate em temperatura ambiente, longe da luz directa do sol. Evite guardo na geleira, pois isso pode afectar a textura e o sabor.

Se o tomate estiver muito maduro e você não for usá-lo imediatamente, pode congelá-lo, devendo cortar em rodelas ou pedaços e colocá-los em uma bandeja para congelar e depois transfira para sacos plásticos. Pode usar posteriormente em molhos e sopas.

Pode ainda fazer conservas de tomate, como tomates confeitados ou em conserva de azeite. Isso pode prolongar a vida útil do tomate maduro por meses.

Uma outra saída é preparar molho de tomate caseiro e congelar em porções. Isso é útil para aproveitar tomate maduro e ter molho pronto para uso futuro.

Grandes quantidades de tomate têm aproveitamento industrial como:

1. Polpa e extracto de tomate: usados como base para molhos, sopas e outros produtos alimentícios.

2. Tomate desidratado: utilizado em temperos, sopas instantâneas e snacks.

3. Sumo de tomate: consumido como bebida ou usado em coquetéis.

4. Subprodutos: as peles e sementes do tomate, ricas em fibras e licopeno, são frequentemente usadas na alimentação animal ou em produtos de saúde e beleza.

5. Fermentação: tomate não amadurecido pode ser fermentado para criar produtos com características nutricionais melhoradas.

Logo, embora em Angola a colheita de tomate se verifique excedentária nos meses de Agosto e Setembro, é preciso aproveitar as vantagens da produção em estufa e investir-se na indústria de processamento de tomate para que este produto, indispensável à cozinha angolana e internacional, não escasseie e seja dado o devido aproveitamento ao excedente.

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Publicado pelo JE&F a 20 de Setembro de 2024

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

KIHUTU vs MBUNDI

Quem viaja pela EN120, sentido Ndondo-Kibala-Wambu, encontra, depois do Rio Longa, pessoas a venderem raízes de uma planta que os ambundu chamam "muxili" e os ovimbundu "mbundi".

A seiva desta raiz (não é tubérculo) possui propriedades adoçantes e fermentadoras, sendo usada para a fabricação de garapa, também conhecida como "wala" ou "kis(s)ângwa" e ainda para fermentar o composto destilável de que resulta a "makyakya" ou kaporroto.
Os aldeões põem-se no sertão em buca do arbusto e escavam as suas raízes que usam no seu dia a dia ou para comercializar aos que, tendo abandonado as zonas rurais, não se desfizeram dos hábitos alimentares e das memórias do seu tempo.
Surgem aqui os menos atentos que podem confundir o arbusto cujas raízes é o conhecido "mbundi" ou "muxili" e o "kihutu", possuindo, ambas, folhagens muito parecidas.
O "kihuto" não é mais do que "feijão-maluco" que, quando as folhas secam, pode dar uma dolorosa comichão a quem nelas se encoste.
O "kihutu" foi nossa tortura involuntária nos tempos de infância, sempre que fôssemos à caça de "kambwiji", lebres e pequenos antílopes. A pressa em vigiar e apanhar os animais que fugiam das queimadas, o fumo do capim acabado de arder e a desatenção faziam com que algumas vezes passássemos em território "minado" por este vegetal, resultando em uma comichão e coceira de caçar pulgas.
Se estiveres à procura de "mbundi" ou "muxili", raízes cuja seiva se adiciona ao rolão ou outros componentes para a produção da saborosa kisângwa, tome cuidado! Pode pôr a mão em "kihutu", o feijão-maluco, e sair daí endoidecido de dor. Procure sempre por um mais velho residente permanente e conhecedor da planta. Nunca vá sozinho à mata à procura de qualquer coisa que seja.
Umona akwambila s'ovita!¹
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1- Uma criança deve acatar conselhos!
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Publicado pelo JE&F a 13 de Setembro de 2024

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O GERGELIM

Nos meus tempos de infância no Lubolu, havia sempre nas lavras uma porção de terra em que, a par da jinguba (amendoim) se semeava o luketo (gergelim) que era colhido no momento certo, e as “cápsulas” contendo as sementinhas eram estendidas por cima de uma chama metálica ou de uma lona, expostos ao sol e em local de fraca ventania. Tal permitia que os invólucros se abrissem e as sementinhas não fossem arrastadas pelo vento. A mwamba (pasta de gergelim torrado e triturado) fazia o papel de óleo vegetal na carne seca e em outros condutos. O gergelim podia igualmente ser comido a solo, como se faz com a jinguba ou o girassol. Ultimamente, tem sido raro encontrar no Lubolu plantações de gergelim, seja em grandes ou pequenas extensões como acontecia nos anos oitenta do século XX.

Todavia, tenho observado alguns mais velhos a consumirem o gergelim como aperitivo. Há quem o trate de “recarga” energética. Também conhecido como sésamo, o gergelim é uma planta oleaginosa da família Pedaliaceae. Acredita-se que seja nativa do nordeste de África e da Ásia.

Ela desenvolve-se melhor em climas tropicais e subtropicais, com temperaturas médias entre 25°C e 30°C. A planta é resistente à seca e prefere solos profundos, bem drenados e férteis, com pH próximo da neutralidade (em torno de 7). Solos muito argilosos ou salinos devem ser evitados para que se tenha uma boa colheita.

O gergelim é altamente nutritivo e oferece diversos benefícios para a saúde, a saber:

Redução do colesterol: contém fibras e compostos que ajudam a reduzir o colesterol LDL e aumentar o HDL.

Controle da pressão arterial: rico em ácidos graxos poli-insaturados e antioxidantes.

Combate à prisão de ventre: as fibras presentes no gergelim ajudam na digestão.

Auxílio na perda de peso: aumenta a saciedade devido ao seu alto teor de proteínas e fibras.

Alívio da artrite: possui propriedades anti-inflamatórias.

Cicatrização de feridas: o óleo de gergelim tem propriedades antioxidantes.

Prevenção do câncer: contém antioxidantes que ajudam a prevenir o desenvolvimento de câncer.

Luanda possui um clima tropical, o que é favorável ao cultivo de gergelim. A planta pode adaptar-se bem às condições locais, desde que sejam seguidas as práticas adequadas de manejo do solo e irrigação. Para garantir uma boa produtividade do gergelim é importante certificar-se de que o solo esteja bem drenado e fértil; embora o gergelim seja resistente à seca, a irrigação adequada durante os períodos críticos de crescimento pode aumentar a produtividade; a plantação deve ser monitorada regularmente para evitar infestações e a colheita deve ser feita no momento certo para evitar a perda de sementes. Com esses cuidados, é possível obter uma boa colheita de gergelim em Luanda. Você já pensou em iniciar uma plantação de gergelim?

sábado, 16 de agosto de 2025

A MARULA OU MACUÁCUA

Em Janeiro deste ano (2024), revisitei Ondjiva, capital do Kunene, e pude, mais uma vez, rever e reavivar informações sobre a árvore "marula", designada em Moçambique (país que conheci e já visitei por duas vezes este ano) por "macuácua". Portanto, é uma árvore comum entre a flora dos dois países (Angola e Moçambique).

Sientificamente, Sclerocarya birrea, e também conhecida por Marula é uma árvore nativa da África Subsaariana e os seus frutos são muito apreciados por diversas comunidades por várias razões, sendo as mais conhecidas:

1. Utilidade para o homem: os frutos da Marula são consumidos frescos, sendo a sua polpa rica em nutrientes e tem um sabor agradável. Além disso, são fermentados para produzir bebidas alcoólicas tradicionais, como a "uca" em Moçambique e a "omagongo" em Angola. O óleo extraído das sementes da Marula é usado na indústria cosmética e na culinária.

2. Adaptabilidade em Angola: a Marula é encontrada em várias regiões de Angola, especialmente nas zonas subtropicais e tropicais onde o clima é adequado para o seu crescimento. A árvore é conhecida por sua capacidade de se adaptar a diferentes condições de solo e clima, o que a torna uma cultura potencialmente valiosa em áreas com recursos naturais limitados.

Além dos usos da fruta, dos cosméticos e da produção de bebidas fermentadas, a árvore Marula tem outras utilidades significativas:

3. Madeira: o tronco da Marula fornece madeira que é utilizada para diversos fins. Embora não seja a madeira mais dura, ela é suficientemente forte para ser usada em carpintaria, fabricação de móveis, construção de pequenas estruturas e criação de utensílios domésticos.

4. Casca: a casca da Marula tem propriedades medicinais e é usada na medicina tradicional. É conhecida por tratar problemas digestivos, febres e outras doenças. Também pode ser usada para fazer corantes naturais.

5. Folhas: as folhas da Marula são utilizadas como forragem para animais, sendo uma fonte importante de alimento para o gado em algumas regiões.

6. Sementes: além de serem usadas para extrair óleo, as sementes de Marula podem ser consumidas diretamente. Elas são ricas em proteínas e gorduras saudáveis.

7. Sombra e controle de erosão: a árvore Marula fornece sombra, o que é valioso em regiões quentes e áridas. As suas raízes ajudam a prevenir a erosão do solo, contribuindo para a conservação ambiental.

8. Polpa e resíduos: a polpa da fruta pode ser utilizada para fazer geleias, compotas e sucos. Os resíduos da produção de óleo e outras partes da planta podem ser usados como fertilizantes orgânicos.

A Marula é uma árvore multifuncional que oferece uma ampla gama de benefícios para as comunidades locais, desde a alimentação e saúde até a conservação ambiental e usos industriais.

A Marula ou "macuácua" não só oferece uma fonte alimentar significativa e diversificada, mas também tem um papel cultural importante, especialmente devido à produção de bebidas tradicionais e ao seu potencial económico na indústria de cosméticos e alimentos.

A árvore pode adaptar-se ao clima de Luanda, desde que observados alguns requisitos como:

Receber água suficiente durante a estação seca.

Solos bem drenados. A planta pode crescer em uma variedade de tipos de solo, incluindo solos arenosos e argilosos. Luanda possui solos arenosos em muitas áreas, o que pode ser adequado para a Marula.

A Marula é conhecida por sua resistência à seca, o que é uma vantagem significativa para a adaptação ao clima de Luanda, onde a estação seca pode ser bastante prolongada.

Para se adaptar bem, a Marula precisa de espaço suficiente para crescer, pois pode atingir uma altura considerável. Além disso, práticas adequadas de manuseamento, como irrigação suplementar durante períodos secos extremos, podem ajudar a garantir o seu crescimento saudável.

A árvore de marula (Sclerocarya birrea) é propagada por via da sementeira. As sementes de marula precisam de ser tratadas para acelerar a germinação, que pode ser demorada. É importante retirar a polpa do fruto, secar a semente e, em alguns casos, escarificá-la (lixar levemente a casca) para facilitar a germinação.

Agora que está mais informado, partilhe e tente o plantio de uma árvore de Marula ou Macuácua.

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Publicado pelo JE&F a 5 de Julho de 2024

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

LICURI

 É um pequeno coquinho de polpa amarela, rico em cálcio, magnésio e betacaroteno, além da grande concentração de cobre, zinco e selênio na sua amêndoa.

Tive uma plantinha que brotou em um vaso mas que não se adaptou ao transplante para terra firme.

Seu nome científico é Syagrus coronata e pode chegar a ter 12 metros de altura.

Syagrus coronata, conhecida popularmente como licuri ou ouricuri, é uma palmeira nativa do território semiárido brasileiro, especialmente das regiões Nordeste e Sudeste, como Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Em Angola é enconterada nop noroeste.  Cresce em áreas de clima tropical e subtropical, com chuvas sazonais e solos férteis, mesmo que secos ou pedregosos.

Adapta-se bem a climas secos e quentes, sendo resistente à seca e ao vento.

Pode ser cultivada em sol pleno, inclusive em solos calcários.É uma planta de crescimento lento, mas floresce durante a maior parte do ano. 

A Syagrus coronata é extremamente versátil e utilizada em diversas áreas:

Alimentação:

  • Fruto com polpa fibrosa e levemente adocicada, consumido cru.
  • Óleo das sementes usado na culinária e na produção de margarina.
  • Pith do caule utilizado para fazer pão.
  • Palmito (broto apical) consumido como vegetal — embora sua retirada leve à morte da planta.

Medicina tradicional:

  • Água do fruto usada para tratar inflamações oculares, micoses e feridas.
  • Chá da raiz indicado para dores na coluna.


  • Artesanato e construção: Folhas secas usadas para fazer vassouras, chapéus, espanadores.
  • Madeira utilizada localmente na construção civil.
  • Sementes usadas na confecção de terços e adornos.

Indústria:

  • Produz óleo rico em ácido láurico, com aplicações na indústria oleoquímica, cosmética e farmacêutica .
  • Produz cera vegetal (cera de licuri), usada para fazer tochas.

💚 Benefícios para o Homem

  • Fonte de nutrientes essenciais, como vitamina A, E e compostos fenólicos com propriedades antioxidantes .
  • Contribui para a segurança alimentar e subsistência de comunidades do semiárido.
  • Tem potencial energético, podendo ser usada na geração de biocombustíveis .
  • É considerada a “árvore salvadora da vida” por seu papel na sobrevivência de populações sertanejas .